segunda-feira, 2 de novembro de 2015

A Igreja Ortodoxa Russa é católica?

Foto: Protodiácono, um padre ortodoxo

Durante a minha viagem à Rússia, muitos ficaram impressionados com a beleza arquitetônica e espiritual das catedrais da Igreja Ortodoxa Russa, assim surgiram muitas questões de leitores do blog sobre a fé ortodoxa russa. Quais as diferenças do cristianismo ocidental para o cristianismo oriental? Por que suas igrejas são diferentes? A igreja ortodoxa é uma igreja apenas russa? Esse artigo se propõe a esclarecer tais diferenças.

O batismo e os símbolos ortodoxos

Primeiramente, devemos nos perguntar, o que é "ortodoxia"? O que torna alguém "ortodoxo"? Se nos atermos à filologia, ortodoxo, do grego ortho (como em ortopédico, ortografia, significando "correto"), e doxos (opinião, método), assim temos "opinião correta". Filologicamente falando, "ortodoxo" é aquele que segue a "opinião correta", e cristão ortodoxo seria o "cristão da opinião correta", verdadeira, "aquele que segue a forma correta do cristianismo". No russo o termo utilizado é pravoslavniy, que tem o mesmo significado, mas em geral são referidos apenas como hristyanin, isto é, "cristão".

O ingresso na Igreja Ortodoxa (adiante IO) se dá pelo sacramento do batismo através da imersão (para os católicos pela unção). Em casos de emergência, onde a imersão coloque em risco a vida do novo cristão ou na falta de uma piscina batismal, o batismo pode ser feito molhando-se a fronte três vezes. Neste sacramento também o cristão recebe um novo nome, que poderá ser igual ou diferente do seu "nome do mundo" (na svete), em geral um nome ligado à história do cristianismo, por exemplo "Olga" (em homenagem a Santa Olga), "Pyotr" (em homenagem a São Pedro), etc. Se for diferente do seu "nome do mundo" será usado durante seu sacerdócio. Por exemplo, São Lucas da Crimeia, santo ortodoxo médico e cientista, se chamava originalmente Voyno-Yasenetskiy.

 Fotos: Batismo de adultos na festa do Batismo de Cristo no Rio Jordão, tradição anual na Rússia. Este batismo, feito na Rússia no dia 19 de janeiro, não é obrigatório para os ortodoxos, sendo mais uma tradição de fé.
 

O batismo é em regra feito por um sacerdote cristão, embora possa ser feito por qualquer cristão ortodoxo, em casos de urgência. Após o sacramento, o cristão ortodoxo entra na nave da igreja, onde estão os ícones sagrados. E aqui temos mais uma diferença da ortodoxia para o catolicismo romano, as imagens de santos nunca são esculpidas, apenas pintadas. Somente uma imagem pode ser esculpida, a de Jesus Cristo na cruz, a fim de demonstrar o seu sofrimento na cruz. E aqui temos mais uma diferença na IO, a sua cruz! A cruz ortodoxa russa é em sempre retratada com 3 barras (a católica com 1 e a ortodoxa grega com os braços do mesmo tamanho), pois acredita-se no cristianismo ortodoxo que Cristo foi crucificado com os pés separados, por isso a barra inferior. No meio os seus braços maiores e na parte de cima a placa com a inscrição "INRI". Por esta razão, as igrejas ortodoxas da Rússia trazem esta representação. Alguns crucifixos ortodoxos podem parecer ter uma barra, como a romana, mas se olharmos de perto veremos as três barras envoltas por uma luz, dando a impressão de ser apenas uma. Em geral crucifixos ortodoxos trazem na parte de traz a inscrição Spasi i Sohrani (СПАСИ И СОХРАНИ, isto é, Guarde e proteja). Lembremos que em russo a palavra para "obrigado" é "spassibá", abreviação de Spássi Boje! (Que Deus guarde!).

O crucifixo é abençoado e consagrado durante o batismo, e colocado no cristão, sendo assim a sua "carteira de identidade" que identifica aquele como sendo um cristão, e não um judeu (simbolizado pela Estrela de Davi) ou um muçulmano (simbolizado pela Lua Crescente). Alguns religiosos, em geral protestantes, recusam a cruz alegando ser o sofrimento de cristo, entretanto os cristão ortodoxos lembram que nos primeiros anos do cristianismo não havia cinema e televisão, sendo a cruz utilizada para ilustrar a história e os ensinamentos cristãos. Ainda em vida, Cristo exortou os seus seguidores a "levar consigo a sua cruz", uma linguagem figurada que é recordada através do símbolo universal cristão.

Ortodoxos são católicos? Católicos são ortodoxos?

Além de sua cruz, o cristão também aprende o Credo (em russo, Simvol Very), na qual ele afirma a sua crença na igreja "una, santa, católica e apostólica". Isso quer dizer que ortodoxos e católicos creem na mesma coisa?

O termo utilizado em russo para "católica" (no credo) é sbornaya, isto é, "congregante", em vez de "katolik", termo geralmente relacionado à Igreja Romana (adiante ICAR). Para nós ortodoxos, "católico" é ser congregante, isto é, ultrapassar a sua própria individualidade em prol do coletivo, algo íntimo, inerente ao caráter da própria Igreja, um modo de conhecimento da verdade da Igreja de Cristo, um acordo perfeito entre a unidade e a diversidade. Segundo o teólogo Vladimir Lossky, "a Igreja reconhece como seus aqueles que estão marcados pelo selo da catolicidade". Assim, o termo "católico" que os católicos romanos empregam como "universal" (como seriam universais também o islã e o budismo, que estão espalhados pelo mundo), os ortodoxos empregam como uma qualidade de detentor da verdade, isto é, daquele que transcende à sua individualidade.

Enfatizemos que diferente dos católicos, que creem que o Espírito Santo "procede do pai e do filho", como se fosse uma pessoa reduzida, entendemos nós ortodoxos que ele precede "do pai através do filho", estando estes em condição de igualdade, formando assim uma harmônica e perfeita trindade, no texto original do Credo:  "Creio no Espírito Santo (...) que procede do Pai, e com o Pai e o Filho recebe a mesma adoração e a mesma glória".

O "filioque" é um dogma introduzido por Roma, um dos pontos que deu origem à separação da Igreja, o que evidencia a tese de um cisma do ocidente, e não do oriente, como apontam alguns historiadores, cisma esse que trouxe grandes prejuízos para o mundo cristão, trazendo a falsa noção de que ortodoxia é "assunto do oriente", uma "religião do oriente", "religião russa", "religião grega" ou alguma outra conotação geográfica. Assim, há na ortodoxia duas opiniões sobre a ICAR, uma é a de que se trata de uma igreja cismática (assim como os Crentes Antigos da ortodoxia), e outra a de que se trata de hereges. Enfatizemos que em russo (e no mundo ortodoxo como um todo) a palavra "cisma" (raskol) é carregada de conotação negativa. Em "Crime e Castigo", romance de Dostoyevsky, o personagem principal, um anti-herói ateu, assassino e estudante de direito que no final se converte à ortodoxia tem por sobrenome "Raskolnikov", isto é, "Cismático". No campo laico, na história soviética, o secretário-geral do PCUS Nikita Hruschov foi denunciado por ser "cismático", no caso em relação à doutrina política comunista que regia a Rússia no século XX.

As regras de conduta também são diferentes entre um fiel ortodoxo e um fiel católico, para dar um exemplo disso, o famoso lutador Fyodor Emelyanenko chamava palavrões antes de aceitar Cristo na Ortodoxia, ao fazê-lo, acabou com a prática, e mesmo em momentos de nervosismo é impossível ver o lutador russo fazê-lo. Para um cristão ortodoxo, o uso de palavrões é considerado um ato vergonhoso, e essa moral ortodoxa por sua vez influencia a legislação russa e dos países de maioria ortodoxa, por exemplo, na Rússia o uso de palavrão em público pode resultar em multa administrativa e mesmo em detenção pela Polícia, prática ainda mais acentuada na época da União Soviética, mesmo com o Estado laico, prevista no código penal da Rússia soviética. Para um ortodoxo é considerado vergonho o uso de palavrões e há inclusive livros catecistas que mostram a posição da igreja a respeito desse assunto. Para um católico praticante, como inúmeros vídeos no ciberespaço mostram, o uso de palavrões é muito comum, é verdade, não entre os padres, mas dentre muitos fieis muito próximos de padres e na cultura brasileira, país de maioria católica, muitos usam sem vergonha nenhuma e de forma indiscriminada os palavrões. Em "A verdade sobre o palavrão russo", do bispo Mitrofan (Badanin) de São Petersburgo e Murmansk, o clérigo faz uma analogia decisiva, "se você fosse à casa de alguém e este lhe oferecesse uma vasilha com fezes, mesmo que você rejeitasse, iria se sentir ofendido".

A liturgia ortodoxa

Além do credo, após o batismo, o cristão ortodoxo leva consigo o "Livrinho de Orações" (Molitvoslov). Ele contém as orações que todo cristão ortodoxo faz ao amanhecer e antes de dormir. Essas orações, como todas as da ortodoxia, são cantadas. Essa mesma leitura cantada é feita durante a liturgia divina, a missa ortodoxa, tanto pelo padre quanto pelo coral presente. Na ortodoxia a liturgia mais comum é a de São João Crisóstomo. Em geral é celebrada na língua de cada povo. Em um passado longínquo, ela era feita em grego e ainda hoje os Crentes Antigos realizam a missa em grego. Na Igreja Ortodoxa Russa, a missa se dá em russo e em eslavônico eclesiástico em partes, em razão dos primeiros cristãos russos rezarem em eslavônico antigo, uma língua morta equiparada ao latim, mas usada com mais frequência do que o latim no catolicismo.

Algumas missas da IO são inclusive poliglotas. Há inclusive na internet um vídeo de uma missa feita em russo e em iacútio, por ser celebrada na capital daquele povo da Rússia, a língua é usada pelos iacútios, povo siberiano que adotou o cristianismo, havendo até vídeos de missas em coreano, dada a presença da IOR na Coreia do Norte. Na Romênia, a missa se dá em romeno, nos EUA em inglês, na Geórgia em georgiano, na Armênia em armênio, em Jerusalém, onde a IO guarda o Santo Sepulcro, em hebraico, na igreja antioquina em árabe, etc. Em algumas circunstâncias, há orações feitas por bispos ortodoxos (chamados de metropolitas) em todas essas línguas juntas! É surpreendente poder assisti-las, estando algumas disponíveis em vídeos na página do Youtube da Igreja Ortodoxa Russa, um verdadeiro dom de línguas! Numa delas a leitura do evangelho em liturgia pascoal é feita consecutivamente em pelo menos 20 línguas.

Em nossos dias, o Santo Sepulcro, túmulo de Cristo, situa-se no interior de uma igreja ortodoxa, em Jerusalém.

Alguns aspectos externos

O descobridor da Rússia e uma catedral ortodoxa na Cidade das Estrelas, onde são treinados os cosmonautas russos e morou Yuri Gagarin. O azul da cúpula da catedral é a cor de Santa Maria.

Vivendo em um país de maioria católica, já visitei algumas igrejas católicas em algumas ocasiões. Há alguns fatos em que se diferem bastante da IO, incluindo aí a estética. Em uma Igreja Ortodoxa, geralmente há na entrada um pequeno armário com um véu tipo "lenço" (corrijam-me os estilistas e mulheres leitoras do blog). Isso por que em respeito ao ambiente, as mulheres cobrem a cabeça, e como nem sempre é costumeiro que mulheres usem um lenço, elas podem usar um disponibilizado na entrada da igreja.

As igrejas ortodoxas russas possuem lindos mosaicos e pinturas em seu interior, mas em razão de um escândalo montado por uma banda de rock em desrespeito à principal catedral ortodoxa, na Rússia muitas igrejas têm avisos de proibição para câmeras fotográficas. Mesmo antes disso, devemos lembrar que essas igrejas possuem ícones antigos, alguns com centenas de anos, e tal como em um museu, em regra não se pode tirar foto do interior de igrejas e catedrais ortodoxas. Não verifiquei essa rigorosidade no Brasil, e, na Rússia, se feito de forma discreta ou for previamente conversado com os responsáveis pelos templos maiores, para os quais há excursões, pode-se ter a chance de fotografar a boniteza de seu interior.

Mas não são apenas as mulheres que devem seguir regras de indumentária, mas também os homens. Não se vê em igrejas ortodoxas homens usando bonés, chapéus, gorros... caso alguém o faça, alguém irá provavelmente alertar sobre seu uso. Em geral os fiéis também seguem regras elementares da moral, não se vestindo para a igreja como alguém que se veste para uma discoteca ou bar, conforme vi em algumas denominações religiosas. O templo ortodoxo é um local de adoração, não de entretenimento ou diversão, não é lugar de gritos e nem de danças exóticas, como alguns vídeos nos mostram em diferentes sites. Também não é um teatro, onde se senta para assistir a um espetáculo, por isso geralmente uma igreja ortodoxa não possui bancos no centro da nave. Em geral, bancos ficam situados na entrada, geralmente para pessoas idosas que não podem ficar em pé durante toda a missa por problemas de saúde. Enfatizamos, entretanto, que no Brasil, geralmente por influência da tradição católica, algumas catedrais ortodoxas podem trazer bancos e assentos, algo contestado por religiosos tradicionais. Entretanto, citando um clérigo ortodoxo brasileiro, o mais importante na missa é o coração do fiel, pois de nada adianta ficar em pé se o fiel está ali apenas por conveniência e com maus pensamentos.

Leitura do Evangelho em várias línguas, em missa ortodoxa de Páscoa, na Rússia (reparemos na oração cantada)


Na missa ortodoxa o clérigo costuma ficar de costas para os fiéis, isso por que nós ortodoxos partimos da premissa de que enquanto representante dos fiéis em sua comunicação com Deus, este e os fiéis imaginam Deus à sua sua frente, e tal como um emissário de um grupo de pessoas se volta para aqueles a quem peticionam, e não para esse grupo de pessoas, o sacerdote se volta para Deus, e não para os fiéis por que ele não pede aos fiéis, mas próprio Deus.

Mas a pergunta persiste, por que as Igrejas Ortodoxas Russas têm uma aparência diferente? Conta-nos o imortal da literatura russa e cristão ortodoxo Lyev Tolstoy, que quando Napoleão chegou à Rússia, ele pensou ter chegado à Índia ou à Pérsia por causa do formato das cúpulas das catedrais russas.

Lembremo-nos de um dos episódios vivenciados pelo autor deste blog, quando ele percorria as ruas de Tula, cidade onde foi batizado, quando uma senhora citou um "museu em forma de elmo", referindo-se ao Museu das Armas a mim. Quando procurei o museu, pensei no elmo ocidental, em formato de pão-de-açúcar, ou algo como um elmo dos cavaleiros italianos, que protegia mais de 90% de sua face. E por que estamos falando de elmo, quando o assunto são igrejas? Por que as igrejas ortodoxas em sua maioria apresentam dois formados, o de um elmo (russo ou bizantino, enfatize-se!) ou de uma cebola. Esses formatos não existem por acaso, sendo dotados de toda uma simbologia!

A forma de elmo faz lembrar o guerreiro, a luta espiritual contra as forças do mal e das trevas travada pela Igreja, a forma de bulbo (cebola) faz lembrar uma vela, remetendo às palavras de Cristo de que "vós sois a luz do mundo", simbolizando a Igreja como a "luz do mundo". E se olharmos atentamente, veremos em cada igreja uma "grande vela".

A principal catedral da Igreja Ortodoxa Russa, a Catedral de Jesus Cristo Salvador, combina elementos do "elmo de guerreiro" e de uma "grande vela" da "Luz do Mundo".
A variedade de formas da arquitetura russa dos templos, se expressa no número de cúpulas que os coroam. Este número é simbólico. Uma única cúpula significa a fé em um único Deus; se são três, a fé na Santíssima Trindade; se são cinco o número de cúpulas, Cristo cercado pelos quatro evangelistas; se são sete, os sete mandamentos da Igreja; se nove, as nove ordens angelicais; se são treze, Cristo e os doze Apóstolos. Este número pode chegar até trinta e três, segundo o número de anos da vida terrena do Salvador.*

Catedral ortodoxa antioquina na Síria, em Damasco
Os sacerdotes ortodoxos caracterizam-se pelo seu ascetismo, pela sua falta de vaidade e simplicidade, visível em suas longas barbas, e ao mesmo tempo na graça de suas vestimentas, que simbolizam a luz e a glória do cristianismo, o triunfo da ortodoxia. Seu líder na Rússia é o patriarca Cirilo.

A Igreja Ortodoxa, seja ela russa, grega, síria, romena ou alguma outra autocéfala, é a igreja fundada por Jesus Cristo que preserva a tradição dos apóstolos e toda a essência do cristianismo, não se trata ela de uma igreja nascida de "cismas", "reformas", "casamentos mal resolvidos" ou que tenta parecer "moderninha", é uma igreja marcada por forte ascetismo, devoção, jejum dos fiéis (que envolve o não consumo de carne nas quartas e sextas) e por uma tradição que na Rússia influencia pessoas e sistemas, e sua manifestação, longe de ser uma abstração, é visível desde o primeiro momento em que contamos com a receptividade do russo ou o seu espírito de abnegação na defesa de uma vida, ainda que isso coloque em risco a sua própria.

Catedral ortodoxa de Santa Catarina, em Roma
Regras de conduta

No ocidente, quando se fala em festas como o natal ou mesmo a páscoa, desde criança eu sempre percebi que essas datas tiveram um foco bem mais comercial do que simbólico ou espiritual. Por exemplo, quando falamos em "páscoa" no ocidente, a primeira coisa que vem à cabeça da maioria dos católicos são "ovos" e "coelhinho da páscoa". As lojas ficam cheias de ovos de chocolate caros. Não que eu não goste de chocolate, mas a razão da data acaba sendo perdida. No natal, rádios e TVs anunciam noite e dia a "chegada do Papai Noel". Embora a Rússia tenha o seu próprio Papai Noel, conhecido como "Ded Moroz" (Vovô Frio), ele anuncia a chegada do inverno e do ano novo.

Na ortodoxia russa, quando se aproxima a páscoa, os cristãos ortodoxo saudam-se com um novo cumprimento, "Hristos voskres" (Cristo ressuscitou, no eslavônico eclesiástico), ao que o cumprimentado responde "Vo istinu voskresse" (Verdadeiramente ressuscitou). Não há "coelhinhos da páscoa" ou coisa parecida. Também não há "ovos de chocolate", o mais perto disso são ovos (reais) pintados à mão numa técnica conhecida como "pissanka", neles são feitos desenhos que expressam toda uma simbologia, desejos de um matrimônio feliz, igrejas pintadas, etc

No natal há grandes missas celebradas nas catedrais ortodoxas. O cumprimento usado é "Hristos rodilsya" (Cristo nasceu), ao que o cumprimentado responde "Slavim Yegô" (Glorifiquemos a ele!).

Fontes

Como nos ensina o site da Igreja Ortodoxa Antioquina, o cristianismo ortodoxo está baseado em duas fontes principais, as Sagradas Escrituras, isto é, o Velho e o Novo Testamento, e a Santa Tradição, isto é, a noção de que o cristianismo tem uma história contínua, e não apenas princípios solidificados em um único livro como creem os judeus ou certas igrejas, sua experiência e vida. Essas são as duas principais fontes de fé.

Há outras fontes que fazem parte da Santa Tradição, como as escrituras dos Santos Padres, a Oração e a Vida Litúrgica, a Vida dos Santos, Concílios e Cânones, a Hinologia e as Artes litúrgicas, isto é, os ícones ortodoxos, considerados não apenas uma "obra de arte", mas teologia viva, retratada em linhas e cores. Cada cristão ortodoxo é chamado a ser também um ícone, a ser uma imagem de Deus em nossas próprias vidas.

Maria na ortodoxia


Assim como os católicos, os ortodoxos também demonstram o seu grande respeito por Maria, mulher escolhida para ser a geradora de Jesus, isto é, a "Mãe de Deus", entretanto, ao contrário dos católicos romanos, os ortodoxos têm em Deus, na Santíssima Trindade, o seu principal foco de adoração, de modo que na iconografia ortodoxa Maria jamais é representada sozinha, como acontece no catolicismo, ela é sempre representada com o menino Jesus, o que denota ser o ícone da "Bogoroditsa" (Theotokos). Também os ortodoxos não se referem a Maria com títulos usados pelos católicos como "Rainha do Céu". Ícones de santas isoladas não se tratam de Maria, mas de outras santas ortodoxas (este que vos escreve ganhou de uma amiga o ícone da Santa Matrona, santa cega com o dom de prever o futuro, que previu a vitória russa na II Guerra Mundial). Como os católicos, também não acreditam os ortodoxos na tese protestante de que "Jesus teve irmãos". É verdade que em passagens bíblicas Jesus fala de seus irmãos, como ele fala que Pedro é seu irmão, o que não quer dizer que ambos tenham vindo da mesma mãe.

Uma das mais famosas representações de Maria na ortodoxia é o ícone de Nossa Senhora de Kazan, famoso por ser apresentado nos momentos mais difíceis da Rússia. Conta-se que ele foi apresentado em Stalingrado às tropas do Exército Vermelho, durante a invasão nazista, e recentemente uma missa liderada pelo Patriarca Cirilo apresentou o ícone contra as sanções econômicas contra a Rússia promovidas pelo ocidente, em particular, pelos Estados Unidos, país que curiosamente se apresenta como um "promotor do cristianismo e da democracia", a despeito de suas práticas que muito mais o enquadram naquilo que o aiatolá Khomeini (um muçulmano) chamou de "O Grande Satã".

Sem cruzadas e sem inquisição

Durante a história da ortodoxia inexistiu, ao contrário do trágico ocorrido no ocidente, cruzadas ou inquisição. As cruzadas vitimaram não apenas muçulmanos, como também fez parte delas a tomada de Constantinopla, capital do Império Bizantino, cristão, mediante um grande embuste, onde os cruzados pediam abrigo para sua expedição no Oriente Médio e aproveitando-se da confiança dos bizantinos atacaram e saquearam a cidade, incluindo a principal catedral ortodoxa da época (hoje mesquita em Istambul), a Catedral de Santa Sofia. Também os cruzados católicos roubaram o Santo Sudário, além de ícones e relíquias cujo valor, se convertido para moeda atual, supera um bilhão de reais.

O saque de Constantinopla levou as Cidades-Estados da Rússia medieval a não confiar no ocidente, levando então o Príncipe da República de Novgorod, Alexander Yaroslavich, a recusar a oferta da fé católica na Rússia, oferta essa precedida de uma traiçoeira invasão conhecida como "Cruzada Sueca", em realidade uma raide viking disfarçada de cruzada cristã. Alexander Yaroslavich, cruzando pântanos quase intransponíveis às margens do rio Neva, onde hoje é a grande cidade de São Petersburgo, atacou os cruzados suecos e duelou pessoalmente com o Jarl Birger, derrubando-o de seu cavalo e ferindo-o gravemente. Pela sua vitória, ficou conhecido como "Alexander Nevsky", isto é, "do Nevá". Mais tarde o mesmo príncipe, em aliança com a Horda (o império dos mongóis) liderou a resistência do povo russo contra a Ordem dos Cavaleiros Teutônicos, alemã, derrotados sobre o lago Peipus, no Báltico. Acabava aí o sonho de Roma de forçar a Rússia a aceitar o império do papa.

O divórcio

A ortodoxia aceita o divórcio em circunstâncias especiais, podendo o cristão ortodoxo casar-se três vezes, mas sendo as demais bênçãos nunca iguais às primeiras.

Matrimônio dos padres

Na ortodoxia, um padre do clero secular pode se casar antes de sua ordenação. Os padres do clero monástico não podem se casar.

A ortodoxia no Brasil


O Brasil possui várias missões ortodoxas. Embora muitos ortodoxos brasileiros sejam descendentes de russos ou ucranianos, muitos também não o são. No Rio de Janeiro a ortodoxia russa é representada pela paróquia de Santa Zenaide no Rio de Janeiro, em São Paulo pela Catedral Ortodoxa de São Nicolau. Ela também está representada em Recife, no Nordeste. Junto com a IOR convivem outras igrejas ortodoxas como a grega, a árabe-antioquina e a ucraniana em Curitiba.

A Igreja Ortodoxa está de portas para pessoas de todas as nacionalidades, etnias e também de todas as ideologias, como enfatizou na TV ucraniana o patriarca Cirilo de Moscou.

Catedral ortodoxa em São Paulo
Galeria de ícones


Um ícone ortodoxo pode ser facilmente reconhecido mesmo por um leigo no assunto, pela sua técnica particular de pintura, que geralmente se distingue da forma ocidental romana.


Representação de Jesus Cristo na Ortodoxia
À esquerda, Maria na ortodoxia russa, com o menino Jesus nos braços; à direita, no catolicismo russo, com a coroa de rainha

Original da Santíssima Trindade, o mais famoso ícone ortodoxo russo e uma obra prima da arte russa. Representa a visita de três anjos a Abraão e Sara, anunciando que esta teria um filho. De acordo com estudiosos, representa o Pai, o Filho e o Espírito Santo, pintado pelo famoso monge russo Andriey Rublyev
Ícone de São Dmitriy Donskoy, príncipe russo que desafiou e pela primeira vez derrotou os tártaros da Horda Nogai (sediada em Kazan) nos campos de Kulikovo, próximo de Tula. Seu nome foi evocado como exemplo pelo premier soviético Iósif Stalin, em seu discurso na Praça Vermelha, antes da Batalha de Moscou e retratado pela propaganda comunista como exemplo a ser seguido pelos soldados russos. 
Ícone de São Lucas da Crimeia (no mundo Valentin Feliksovich Voyno-Yasenetsky), santo russo do século XX, médico e cientista que desenvolveu técnicas inovadoras de cirurgia ocular e cuidou de soldados soviéticos durante a II Guerra Mundial, bispo da Crimeia. Primeiro ícone adquirido pelo "Descobridor da Rússia" em sua chegada em Moscou no aeroporto de Sheremetyevo.

*http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/miscelanea/as_cupulas_na_igreja_ortodoxa.html

2 comentários:

  1. Busco a fé Seja na Católica Romana ou na Batista ou na Ortodoxa que Deus me guie e proteja mas tenha Deus como seu guia e mestre não Caia na mentira de Satanás fique na paz.

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