sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Como desperdiçar um bilhão em um filme

Resenha do filme "O viking" (2016)
Ontem assisti à superprodução russa "O Viking", fechando assim, no antepenúltimo dia do ano, o "Ano do Cinema Russo". A princípio não diria que foi um filme ruim, mas quando soube que o orçamento foi de mais de um bilhão de rublos e que foi filmado num período de 6 anos, com duas horas e meia de duração, também não posso dizer que foi um bom filme como "O Terremoto" (Zemletryassyenye) ou "Os 28 imortais de Panfilov" (28 panfilovtsev), filmados com um mísero milhão de dólares.
O filme é baseado tanto em sagas islandesas dos vikings na Rússia quanto em fontes russas, tendo pretensão histórica. Em termos de qualidade visual e reconstrução histórica o filme é excelente, pois a Rússia provou que sabe filmar como Hollywood, e nisso está a força desse filme. Os quadros são realmente bonitos, tanto no inverno, quanto no verão, outono e primavera. Nele não há nenhuma romantização da Rússia medieval, há sujeira e ambientes sombrios em Kiev, os camponeses usam roupas comuns, e não belas "kossovorotki". A antiga capital russa é apresentada em seus primórdios e mais se parece com uma grande tribo indígena numa colina, na qual Vladimir chega com os seus mercenários vikings do outro lado do mar e assume o poder local após a morte de seu pai, após um exílio forçado na Suécia. No aspecto linguístico, o filme deu um enorme salto! Nada de diálogos sobrepostos por uma voz simultânea, mas diálogos em sueco, língua dos vikings, e grego, durante a chegada do Império Bizantino, todas com legendas em escrita de bétula, além disso, diálogos em russo, claro. O filme ajuda a despertar interesse na história russa, civilização de mais de 1000 anos. Além disso, nenhum outro filme russo traz atrizes russas tão bonitas quanto as do filme, uma delas a princesa Rognyeda, que não é russa, mas bielorrussa. As armaduras dos vikings, dos arqueiros montados petcheneg e especialmente da guarda pretoriana bizantina, incluindo a armadura dourada escamada do imperador bizantino, chamado "romano", são surpreendentes, assim como as cenas de batalha, que são mais de um terço do filme. Sem dúvidas, um épico supostamente fadado a ser um "Coração Valente" da Rússia, pelos críticos até foi chamado de "Game of Thrones" russo. Não podemos esquecer do grande número de cavalos no filme, em um país cujo mapa se assemelha a um cavalo, e que graças ao cavalo alcançou enormes proporções, fosse pelos cossacos do Império ou pela Cavalaria Vermelha. Mas com tantas expectativas, quais os problemas desse filme?
Se muitos que assistiram aos "28 imortais de Panfilov" reclamaram que no filme não se pronuncia URSS e "soviético", pode-se reclamar que em "O Viking" não se pronuncia o termo "russo" e nem mesmo "Rus". Além disso, o próprio nome é uma incógnita... Apesar do filme trazer vikings, eles não são os personagens principais e nem mesmo o motor da trama, apesar de serem personagens-chave. Vladimir, filho de uma escrava que defende à força o seu direito ao trono de Polovotsy e de Kiev, luta contra um de seus irmãos, vingando a morte de um deles, com a ajuda dos vikings, mas ele próprio não se porta como um viking. Aliás, tanto Vladimir quanto os vikings são personagens muito fracos, pouco carismáticos! Os atores, sem dúvidas, fizeram um excelente trabalho, incluindo a estrela russa Danila Kozlovsky, que está quase todos os filmes russos agora, o problema é o roteiro dado a eles, que oferece ao espectador personagens rasos, sem carisma. Dois personagens, entretanto, se destacam na atuação, um deles é o canadense John DeSantis, que interpreta um beserker viking. Aliás, um papel perfeito para o mais alto ator do Canadá, mais de 2 metros. É surpreendente quando no momento de uma das batalhas, sai o berseker com um enorme martelo de guerra bradando gritos em sueco e usando pele de lobo, o personagem brinca com as crianças numa cena bastante espontânea, criando uma empatia a despeito do seu pouco tempo de cena. Outro personagem carismático é Fyodor, um guerreiro honrado cuja fé é diferente dos kievenses e dos vikings ao seu redor, o cristianismo. A sua fé e devoção surpreendem ao então pagão Vladimir, inclusive no momento de sua morte, quando Fyodor morre após lutar contra uma multidão de pagãos que queria sacrificar uma criança viva, para que o ídolo pagão concedesse mais vitórias ao povo de Kiev. É uma cena muito bonita e bastante comovente. Mas nessa cena, o diretor perdeu uma enorme chance de fazer arte! O que é arte? É a verdade contada através de uma mentira. Hoje Kiev é capital de um país inventado no século XIX, a Ucrânia, isto é, russos que não se consideram russos e se arrependem de tal, tornando-se assim presa fácil para os adversários políticos da Rússia. Um dos aspectos de Kiev hoje é o fanatismo da Maydan, similar ao fanatismo dos crentes pagãos exibidos no filme, o diretor perdeu uma excelente oportunidade para contar ao mundo os crimes do regime de Kiev do ditador Porshenko e das Hordas do Praviy Sektor em Kiev, sacrificando inocentes em nome de seu "deus pagão" do fanatismo e da guerra. O diretor não fez a lição de casa com o imortal diretor Einsenstein, que com o fantástico clássico "Alexander Nevsky" conseguiu mostrar ao público, no século XX, as barbáries do fascismo alemão através de uma história do século XIII envolvendo os Cavaleiros Teutônicos e a Ordem Livônica. Ressalte-se que diretores dos EUA até hoje estudam os filmes de Einsenstein para aprender a filmar e dirigir em Hollywood. É uma grande ironia que em sua terra natal, a Rússia, ele parece ser ignorado. Filmes como "Alexander Nevsky", "Ivan, o Terrível", ou mesmo "Sadko" trazem diálogos que até hoje são atuais, sobre os quais pode-se pensar, refletir, discutir, e nisso está a força deste tipo de filme, nisso está a sua beleza.

O grande pecado de "Viking" é ser um filme cujo tema é indefinido, a começar pelo título. O filme não é sobre Vikings, de fato eles participam, são personagens-chave, mas não são o motor da trama. Também não sabemos se o filme é sobre Vladimir, já que na maioria das cenas o personagem lembra mais parece o Ronaldo com convulsões durante a partida do Brasil contra a França, ou está tonto, ou está alheio, ou caído no chão... A única cena onde ao ator é dada a oportunidade para que este mostre seus dotes teatrais é durante a cena na catedral ortodoxa grega (que estranhamente aparece com inscrições em latim), durante o momento de sua confissão ante o padre ortodoxo grego. É uma cena silenciosa, reservada exclusivamente para que dois atores demonstrem o máximo de si. Ainda outra atuação marcante é a da personagem Svetlana Hodchenkova, a Viper em "Wolverine Imortal". Pela terceira vez a sua personagem se chama "Irina".
"O Viking" não é um filme ruim, mas é um filme que provavelmente será esquecido em 5 anos ou menos.Se levarmos em conta que esse foi talvez o maior orçamento para um filme russo em 2016, um bilhão e duzentos e cinquenta mil rublos, e, mais do que isso, um filme filmado durante 6 anos, então espera-se bem mais, espera-se um grande épico como "Alexander Nevsky" e "Ivan, o Terrível". Sobre o quê falou "O viking"? Vladimir é um nome marcante na história russa, é o nome do santo cristianizador da Rússia, assim como também do revolucionário que "converteu" a Rússia ao comunismo, Ulyanov, como também é o do presidente que converteu a Rússia num país influente no século XXI, Putin, logo com um nome de tamanha proporção, muito poderia ser dito no filme, o personagem principal poderia ter sido mais vivo.
Sem sombra de dúvidas, o diretor Andrey Kravchuk conseguiu se igualar a Hollywood em termos técnicos, mas talvez por ter se esforçado tanto para superar Hollywood, Kravchuk acabou esquecendo de ao menos tentar se igualar aos grandes mestres do cinema mundial como Einsenstein, com o qual aprendem até mesmo os americanos.

Aleksandra Bortich, atriz bielorrussa que interpreta uma princesa de Polovotsy

Svetlana Hodchenkova, a "Viper" de "Wolverine imortal" e "Pânico no metrô", mais uma vez como "Irina"
O mais alto ator canadense DeSantis como "Beserker viking" em cena de batalha:


Trailer do filme:


domingo, 4 de dezembro de 2016

Armas e acessórios do guerreiro medieval russo


A neve


"Neve... Quando ela cai, parece que tudo ao redor se acalma e toda a terra fica tranquila, como se ela estivesse esperando por algo incomum e lindo. E a alma perece, ficando condicionalmente vinculada à Maravilha, vinculada à tranquila e pura Alegria, que, tal como a neve cadente, cai dos céus em silêncio para a calma terra... para a calma terra dos nossos corações. 
O que é que estimula o coração quando ele vê a neve cadente? É a fina e completamente ímpar pureza exaltada... a pureza de uma incomum maravilha Divina!"

Monge Simeon Afonskiy


Um paladino da guerrilha antinazista


O Padre Fyodor Puzanov, da Igreja Ortodoxa Russa, foi um participante de duas guerras mundiais. Durante a IIGM, juntou 500 mil rublos em diferentes aldeias e entregou-os para a formação de uma coluna de tanques do Exército Vermelho. Também integrou a inteligência da guerrilha antinazista (partizan), condecorado várias vezes, incluindo a medalha "Guerrilheiro da Guerra Patriótica".


O povo saha

Saha, um dos mais de 150 povos que habitam a Rússia. A terra nativa dos povos saha são as ilhas do Extremo-Oriente conhecidas como Ilhas Sahalinas, no Oceano Pacífico.