quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Os desenhos soviéticos

Os desenhos soviéticos tem uma característica marcante, eles são conhecidos por praticamente todos na Rússia, desde os mais idosos, passando por adultos até chegar as crianças. Não se trata de desenhos "para promover a ideologia comunista soviética", são antes de tudo desenhos que promovem a ideologia da bondade. Conheça alguns deles:

- Umka

Umka é um filhote urso polar (poderia ser mais russo?) que vive isolado em sua geleira polar com sua mamãe. Ele sempre vai em busca de novos amigos, mas nem todos tem a coragem de ser amigo do rei das geleiras! Seu desenho é cheio de canções.

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- Tcheburashka

Não se sabe ao certo qual a sua verdadeira identidade, sendo ela por vezes alvo de discussões, se é um homem, um macaco, um rato, um gato. O certo é que é um personagem simpático conhecido de praticamente todo russo, com voz de neném.

- Vinni Puh

Segundo algumas fontes, foi desse personagem que veio o ursinho Pooh, bastante conhecido.

- Nu, pogodi! (Ei, você vai ver!)

Seus principais protagonistas são a lebre e um lobo, que está sempre tentando devorar a lebre e passa por situações cômicas nessa tentativa. Uma vez que não consegue e se irrita, o lobo diz "Nu, pagadi!".

- Chipolino (Cebolinha)

Baseado na história infantil de um autor italiano, sobre uma sociedade em que as frutas formam a aristocracia e os legumes a classe operária. As frutas querem ser donas de todas as terras e lugares, e também querem ter o domínio sobre todos, mas Chipolino é corajoso e defende os direitos de seus companheiros legumes contra a opressão das frutas. O desenho conta com a trilha sonora do imortal compositor Aram Hatchaturyan, armênio.

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Contra a idiotia


Existem idiotas de todos os tipos e nacionalidades. Idiota é uma palavra que vem do grego, de "idhiotis", isto é, o cidadão privado, individual, que se aparta da vida em sociedade, da vida pública. Mas por que estamos fazendo essa reflexão?

Ouvimos diariamente muitas mentiras sobre a Rússia, mentiras essas que já nos são alertadas desde os tempos do grande escritor Gógol, que ousou descrever a "alma russa". Eis que, em certo grupo de uma dada rede social, uma moça comentou que estava chocada com uma amiga sua, pois ao mostrar músicas em russo para essa, a amiga, percebendo que era a língua russa, disse que não iria ouvi-las por que "a Rússia é anti-LGBT". Assim a jovem perguntava "como lidar" com esse tipo de questão. Pois bem, vamos por partes.

Na Rússia, de fato existe uma lei que proíbe a propaganda de valores não tradicionais. É normal que num país milenar, com uma cultura construída ao longo dos anos, valores deste povo sejam preservados contra a influência cultural de certos países do ocidente, todavia na Rússia ninguém é proibido de exercer quaisquer atos sexuais em sua vida particular, isto é, em casa, no quarto, em clubes específicos para determinados grupos, etc. Isso deve ser ressaltado!

Outro ponto, é que na Rússia, ao contrário do que é divulgado por jornais sensacionalistas ocidentais, ninguém é proibido de ter qualquer tipo de orientação sexual. Alguns artistas inclusive seguem condutas particulares diferentes da maioria, sendo jamais alvo de chacotas públicas ou perseguidos por isso, alguns, inclusive, até pertencem ao partido do presidente da Rússia, "Rússia Unida", sendo um bom exemplo disso o artista Boris Moyseev. 

Mas o ponto principal é que em geral os russos não são como os americanos, que estão sempre buscando um motivo para dizer que esse ou aquele "é gay", e muito menos são como os árabes, onde não apenas o homossexualismo é proibido como homossexuais são enforcados em praça pública, e tudo isso com respaldo legal! Se partirmos da premissa de que a Rússia é "anti-LGBT" e por isso sua cultura não merece consideração, seguindo a mesma lógica, também jamais devemos falar em "ALmoço", no trabalho, já que é uma palavra que vem do árabe, e na Arábia, conforme dito, gays são enforcados. Também diga para nunca comprar nada em um BAZAR, pois "bazar" vem do farsi, língua do Irã, onde gays são enforcados em guindastes. Aquele que realmente tem tanta consideração pelos "não-tradicionais" também tem por obrigação parar de comer quibe, de usar temperos, e se alguém ficar com o seu troco em uma loja, então que não reclame e nem faça contas, afinal, a "ÁLgebra" é invenção dos invenção dos árabes, e como foi dito aqui, na Arábia se enforca gays, e isso se tiverem a "sorte" de não serem processados por bruxaria, cuja pena é a decapitação na Arábia Saudita.

A propósito, alguém lembra de ter visto algum desses "militontos" cobrando "sanções econômicas contra o petróleo da Arábia" por causa de suas posturas contra essas minorias? Todos os povos e culturas tem pontos com os quais concordamos e não concordamos, exigir que uma certa cultura seja um espelho de nossas próprias ansiedades é um ato egoísta, individualista e sobretudo etnocentrista! Quem deixa de aprender russo por preguiça, desinteresse ou "por que lá não é igual" não faz a menor ideia do que está perdendo. O russo é, junto com o esperanto, a melhor língua para social network. É como haver um baú cheio de ouro, diamantes, rubis, esmeraldas... e o sujeito não querer abrir o baú "por que não é fácil e bonitinho como a caixinha de purpurina".

Estação Partizanskaya, uma história para jamais esquecer



Visitar o metrô de Moscou não é apenas usar um meio de transporte, é antes de tudo visitar um museu subterrâneo que conta importantes momentos sobre a história de uma civilização moderna, a civilização soviética.

No começo do século XX surgiram as primeiras propostas para a construção de um metrô no Império Russo. Essa proposta era vista com desdém pela nobreza, misturar nobres aristocratas e populares camponeses, operários? Nem pensar! Isso mudou com os bolcheviques, inspirados nos eventos das ruas de 1905, que levou à Praça da Revolução de 1917, assim, inspirados nesses eventos surgiram as Estações "Ulitsa 1905" e "Praça da Revolução". Mas há uma estação que conta um momento muito delicado, uma história especial. Lá, quando o passageiro desce no metrô ele vê um monumento imponente, onde um camponês, barbado, com seu shapka e sua lendária submetralhadora PPSh-41, ergue imponente o braço direito, fazendo sinal de "alto", impossível não parar e contemplar o monumento. Logo ao lado do vovô está um jovem em trajes civis, com um fuzil Moisin-Nagant e uma camponesa com uma submetralhadora PPSh-41. Um desavisado poderia pensar se tratar de "militares", todavia não se trata de militares, eles são os "partizans", o exército invisível, clandestino, irregular, da guerra de guerrilhas. Eram em geral civis, camponeses que pegavam em armas contra o fascismo, em alguns casos militares separados de suas unidades ou fugitivos de campos de concentração nazista, em outros casos eram jovens do partido comunista lançados atrás das linhas inimigas para operações clandestinas.

Na Estação Partizanskaya (isto é, Estação dos Guerrilheiros) estão dois grandes monumentos desconhecidos por muitos, mas conhecidos por aqueles que verdadeiramente amam a Rússia e o seu povo. Eles estão sempre adornados de flores, permanecem na memória eterna dos justos, dos comunistas, dos patriotas, dos verdadeiros cristãos que compreendem o verdadeiro significado da palavra "abnegação". Um dos monumentos retrata Matvey Kuzmin, o cidadão mais velho a receber o título de "Herói da União Soviética", cujo feito era equiparado ao de Ivan Susanin. Matvey era um camponês autônomo, não fazia parte de um Kol'hoz, ele viu o país onde semeou, em que trabalhou ser invadido pelas hordas genocidas "civilizatórias" do III Reich, que naqueles tempos encontravam-se a caminho de Moscou. Fazendo-se passar por um amigo, o comandante alemão ofereceu a Matvey, de 83 anos, tudo o que ele precisava para ser um camponês rico e próspero - dinheiro, querosene, farinha e mesmo um rifle de caça. Matvey disse conhecer um atalho para se chegar até a vila de Malkino, tratando assim de guiar os nazistas. Ocorre que Matvey alertou ao seu neto sobre seu plano, enviando o garoto para a vila de Pershino, onde estavam estacionadas tropas do Exército Vermelho. 

Levando os alemães por caminhos duvidosos, Matvey guiou-os até os subúrbios de Malkino, onde o batalhão alemão foi atacado de surpresa pelas tropas do Exército Vermelho e da Milícia Popular, sofrendo pesadas perdas, mais de 50 homens, tendo 20 capturados, e sendo os alemães obrigados a fugir. Durante o tiroteio, o oficial alemão, percebendo do que se tratava, enfureceu-se e a tiros de pistola executou o ancião camponês. Matvey foi enterrado com honras militares e sua história tornou-se conhecida por meio do jornalista do Pravda Boris Polevoy, que também escreveu um livro infantil chamado "O último dia de Matvey Kuzmin", que ainda faz parte do currículo escolar russo. Em 1943 foi incluído no metrô de Moscou, na Estação Partizan, um monumento ao herói ancião, feito pelo artista Matvey Manizer. Por decreto do Soviete Supremo, em 1965, Matvey foi condecorado post mortem com o título de Herói da União Soviética, o maior do país.


Todavia os exemplos de heroísmo e galhardia não se limitam aos anciãos na Estação Partizanskaya, mas também aos jovens. Ao atravessar os trilhos da parte central do metrô por meio de uma escadaria, temos acesso a um monumento que se ergue imponente, de uma jovem de cabelo curto, com um olhar altivo, botas, saia, e um fuzil nas costas, uma jovem por vezes comparada a Joana D'Arc. É o monumento a Zoya Kosmodemyanskaya.

Zoya Kosmodemyanskaya era uma jovem comunista, "komsomol", era bastante determinada e destemida, conhecida pela sua personalidade independente desde a época da escola. Quando a guerra começou, apesar da proibição de seus pais (ela tinha apenas 18 anos), Zoya alistou-se como voluntária para a guerra de guerrilhas, para se tornar uma "partizanka". Tornar-se uma partizanka era uma atividade que, em especial para uma mulher, ainda mais uma garotinha de apenas 18 anos, exigia grande coragem. Exigia coragem para, por exemplo, saltar de paraquedas, uma modalidade nova da arte da guerra naqueles tempos, saltar de enormes altitudes sem se ter a certeza de se chegar até o chão inteiro. Também exigia preparo físico, que Zoya e muitos outros jovens soviéticos possuía, bem como a capacidade de, sob qualquer circunstâncias jamais entregar os companheiros.

Enviada para trás das linhas inimigas, operando a partir de território ocupado pelos nazistas, Zoya e seus companheiros disfarçados de camponeses tinham como missão plantar minas terrestres para destruir veículos do invasor e incendiar casas para que os alemães não tivessem onde passar a noite sob o frio. Numa dessas missões, um dos companheiros de Zoya foi capturado, entregando a guerrilheira russa. Enquanto tentava incendiar um estábulo da cavalaria alemã na vila de Petrischevo, Zoya foi surpreendida por soldados alemães, sendo capturada. Assim como Cosme e Damião, santos torturados pela água e pelo fogo (Kosmodemyanskaya significa em russo "De Cosme e Damião"), Zoya foi torturada de todas as formas para entregar os seus companheiros, nunca revelando a posição da sua guerrilha nem se submetendo aos alemães, foi exposta ao fogo de vela, e levada nua para o a neve congelante.


Após os esforços inúteis, os alemães decidiram enforcar Zoya em frente aos camponeses. Ela foi obrigada a carregar uma placa "Sou incendiária de cabanas". Desafiadora até o último instante, antes da forca Zoya declarou: "Vocês podem até me enforcar, mas atrás de mim estão 200 milhões parar vir atrás de vocês". Enforcadas pelos nazistas, Zoya foi retirada da forca com seus últimos suspiros de vida, quando então os nazistas, sorrindo, desferiram golpes de machado contra o corpo moribundo de Zoya Kosmodemyanskaya, esquartejando-a, deixando o seu cadáver exposto na neve, ato cruel e bárbaro fotografado e documentado pelos próprios alemães, que por vezes tinham como "hobby" enviar tais fotos para seus amigos e familiares. Segundo a companheira de Zoya, Klavdiya Miloradova, o cadáver de Zoya sequer tinha mais unhas.

O traidor de Zoya, Sergey Sviridov, pôde fugir, ele chegou a ganhar dos alemães como "recompensa" um copo de vodka, relatando arrependido a sua traição às autoridades soviéticas, que processaram-no, julgaram-no e fuzilaram-no por traição. A história correu o país, pelo heroísmo da jovem e pela barbaridade dos fascistas, em breve viria a represália soviética. Chegando a história ao conhecimento do Secretário do Partido Comunista e agora elevado ao posto de Marechal da União Soviética, Iósif Vissaryonovich Stalin, este emitiu pela primeira vez a ordem para que durante o ataque à unidade alemã identificada pela inteligência soviética, 332º Regimento de Infantaria do Wermacht, "não fossem feitos prisioneiros", isto é, para que os militares do exército vermelho atirassem inclusive em quem se rendesse. Dito e feito. Um dos últimos soldados perseguidos pelo Exército Vermelho era um sargento nazista, cuja bolsa continha fotos do cadáver esquartejado e da execução de Zoya Kosmodemyanskaya. Assim, a martirizada jovem russa tornou-se a primeira mulher a receber o título de "Herói da União Soviética" durante a grande guerra. A Igreja Ortodoxa Russa estuda uma proposta para a santificação de Zoya Kosmodemyanskaya, lembrada na Estação Partizanskaya. No ano 2014, o Patriarca de Moscou e Toda a Rússia, Cirilo, exortou os jovens russos a seguir o exemplo do Marechal Júkov e de Zoya Kosmodemyanskaya.


O autor do blog, depositando flores no monumento a Zoya Kosmodemyanskaya

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

O hotel Armênia

Existe um lugar próximo de Moscou ideal para quem quer assistir aos jogos da Copa do Mundo e fugir do caos da grande metrópole russa (e também de seus preços). Trata-se da cidade de Tula (cerca de 250km de Moscou). É uma cidade pequena, de cerca de 300-400 mil pessoas, bem estruturada e com ótimos hotéis. 


Um hotel particularmente notável e bastante agradável é o Hotel Armênia. É uma localização bastante centralizada, em frente à sede do governo local, a Casa Branca, a um monumento a Lenin, a duas catedrais ortodoxas (incluindo a do kremlin) e ao Kremlin de Tula, além de ficar muito próximo do Museu do Samovar e a outro museu municipal, estando vizinho a um centro de comércio e sobre uma banya (a famosa sauna russa).



O hotel é adornado com papéis de parede ricamente decorados e quadros de artistas locais, possui um restaurante que serve pratos da culinária armênia e alguns funcionários seus (além de seu dono) são armênios. Possui bom aquecimento, ar-condicionado, água quente e vista para o Kremlin de Tula. Tendo conheci as instalações dos maiores hotéis de Fortaleza, incluindo suas suítes imperiais, posso assegurar que em nada o hotel de pequeno porte fica a dever a estes. Nele já estiveram diversas celebridades da Rússia, incluindo o famoso cantor Josef Kobzon. 

É possível encontrar preços a partir de 50 reais, dependendo da época, incluindo café da manhã.














Para mais informações sobre reservas e melhores fotos, visite:

http://www.booking.com/hotel/ru/armenia.ru.html

50 impressões sobre a Rússia

Tendo estado na Rússia e estudado há mais de 10 anos a sua história e suas tradições, tive as seguintes impressões do país:

Uma característica marcante da Rússia: a preservação da tradição

1 - Ao contrário do que é apresentado em filmes ocidentais, os russos são um povo bastante receptivo. É normal chegar na casa de um russo e ser recebido com uma mesa feita. É comum receber presentes durante a visita. Também é normal que um homem ou mesmo uma mulher, convide você para aparecer em sua casa ou sair apenas por amizade, sem segundas intenções.
2 - Ainda sobre a receptividade dos russos, os VIPs russos são frequentemente pessoas acessíveis. Já conheci pessoalmente no Brasil e na Rússia diretores de companhias russas, o presidente Vladimir Putin, diplomatas russos e agentes de segurança, um empresário russo, o vice-diretor da agência espacial russa, advogados e oficiais russos, incluindo dois generais. Com todos eles falei como se estivesse falando com um conhecido (exceto com o presidente russo, que apenas cumprimentei). 
Na Rússia, quando comentei que no Brasil meras personalidades como juízes, advogados e certos profissionais liberais se acham deuses, eles ficaram espantados, especialmente quando falei do caso de uma policial que foi presa por dizer que "juiz não é Deus".
3 - A principal palavra da língua russa, que a distingue bastante de outros idiomas, é o uso constante da palavra "nash" (nosso), em alguns casos também "my" (nós). Isso pode ser facilmente percebido em filmes do cinema soviético e russo, quando o narrador fala "eles defenderam a nossa terra", "nosso país", nunca se referindo à Rússia ou à URSS no cinema soviético em terceira pessoa, como geralmente estamos acostumados a falar do Brasil. Há uma organização chamada "Nashi" (Nossos) e é comum alguém dizer "eto nashi" (esse é um dos nossos), nunca "lá estão russos", ou "lá vivem russos", mas "lá vivem os nossos". Se no hino nacional do Brasil falamos em "o Brasil", nunca falando em "nosso país", o hino da Rússia fala em "nossa potência", "Rússia querida, o nosso país" logo em seu início.
4 - Como em um famoso filme de Arnold Schwarzeneger, ator austríaco que interpreta um miliciano soviético, os russos gostam muito de trocar presentes, especialmente durante um encontro ou despedida.
5 - Nem todo "russo" é russo. Na língua existe a palavra "russkiy", que designa o russo étnico, e a palavra "rossiyanin", que designa alguém da Rússia. Embora em seus passaportes todos apareçam como "Russo" ou "Russian" no inglês, na Rússia há mais de 300 nacionalidades, povos centenários ou milenares que convivem no mesmo território há centenas de anos e têm suas próprias tradições, costumes e línguas, embora todos falem russo. Quando tomei um táxi com um motorista do Daguestão, país da Federação Russa que tem o tamanho do Rio Grande do Norte, ele me contou como lá se fala mais de 30 línguas diferentes. Há também um grande número de imigrantes da Ásia (em especial China e Mongólia), da Ásia Central e do Cáucaso, especialmente da Armênia e Geórgia. Eles são diferentes, fisicamente, dos russos étnicos, e preservam tradições e costumes diferentes. Essa presença estrangeira é bastante visível em Moscou, onde há inclusive milhares de africanos vivendo, em especial universitários, além de centenas de latinos. É possível encontrar ainda, em número menor, ingleses e italianos vivendo em Moscou.
6 - Na Rússia as portas podem abrir para fora (НА СЕБЕ) ou para dentro (ОТ СЕБЕ). Essa informação poderia parecer irrelevante, não fosse o fato de que elas são geralmente de madeira maciça, pesadas, para servir de isolamento térmico durante o inverno. Elas também podem emperrar durante essa época e entender para que lado abrem pode ajudar.
7 - Os lares russos possuem portas que parecem cofres de banco, duas ou até três portas de aço. Achei isso um tanto assustador, mas minha amiga de Tula me contou que elas foram instaladas nos anos 90, quando a criminalidade na Rússia era muito alta (na era soviética eram usadas portas comuns de madeira) eram comuns furtos, roubos e até invasões de lares para usar os banheiros ou consumir bebidas e narcóticos, mas a situação melhorou muito nos últimos anos.
8 - As cidades russas transmitem bastante segurança, me senti bastante seguro andando no centro de Moscou após as 10 horas, no subúrbio Planernaya depois das 12:00 e também caminhei 3 quilômetros em Tula ao lado de uma amiga sem a menor sensação de risco. Vi outras pessoas fazendo o mesmo.
9 - Os policiais russos são bastante prestativos em inúmeras ocasiões, mesmo conhecendo as direções dos metrôs, os policiais me orientaram corretamente sobre que metrô tomar e alguns até mesmo usaram os seus telefones para fazer uma consulta quando não sabiam. Tanto os policiais da "Politisya" regular quanto os do "DPS", a polícia de trânsito.
10 - A Polícia russa é um órgão federal subordinado ao MVD, o Ministério dos Assuntos Internos.
11 - Os russos adoram uniformes! Essa é uma marca do país. Quando mostrei o novo uniforme dos carteiros a alguns brasileiros, pensaram ser algum uniforme de general, mas era de carteiro. Promotores usam uniformes (lembremos de Natalya Poklonskaya), ferroviários usam uniformes, agentes da receita tem seus pomposos uniformes, agentes de fronteira tem uniformes e nossos policiais federais usando meras camisetas estilo a que usamos para ir à bodega da esquina na imigração.
12 - Na Rússia os gatos estão para os russos como os cães para os brasileiros. Há algum tempo, numa rede social, uma russa me oferecia "um gatinho como lembrança de Ulyanovsk", charges frequentemente contem gatos, retratando-os positivamente.
13 - Algumas celebridades russas usam o metrô, na saída do Metrô de Moscou pude conhecer o famoso ator Oleg Menschikov, que tirou fotos com um de seus fãs, mesmo estando apressado.
14 - Os russos são bastante organizados quanto à mobilidade, pois há placas indicando por onde os que vão devem ir e por onde os que vem devem ir. Assim, não há perigo de se esbarrar em alguém.
15 - Em cidades como Moscou as pessoas estão sempre apressadas, geralmente caminham rápido, algumas vezes até correm no metrô, assim nunca acontece de você estar apressado e ter uma "tartaruga" na sua frente impedindo o trajeto.
16 - O Metrô de Moscou não é só um meio de transporte, é também um museu subterrâneo que fala sobre parte da história do país, especialmente o período soviético (incluso a sua Revolução de Outubro), os esportes da Rússia, além de estações que homenageiam os povos que fizeram parte da URSS, em especial os bielorrussos e ucranianos, nas estações "Byelorusskaya" e "Kievskaya".
17 - Os russos frequentemente demonstram um grande respeito pelo período soviético, a maioria é saudosista, conforme indicam pesquisas do Instituto Levada. Muitas ruas possuem o nome de líderes comunistas e muitas praças contem monumentos a Lenin. No metrô isso é ainda mais visível, basta ver o nome de algumas estações: "Marxista", "Proletária", "Rua 1905", "Praça da Revolução", "Lubyanka" (sede do antigo KGB), "Dmitrovskaya" (em homenagem ao líder da internacional comunista), "Frunzenskaya" (em homenagem a um dos líderes da revolução, Mihail Frunze), Krasnogvardeyskaya (em homenagem à Guarda Vermelha), dentre outras. Muitos russos também visitam diariamente o Mausoléu de Lenin e o túmulo de Iósif Stalin.
18 - É muito grande, na Rússia, a popularidade de nomes como Lenin, Stalin e Putin, frequentemente representados em camisas, canecas, bottoms, retratos, quadros, etc. Muitos russos que conheci apoiam o presidente Putin, especialmente por ter atenuado os impactos do capitalismo na Rússia da Era Yeltsin, por sua simpatia a valores soviéticos e principalmente pela forma como conduz a política nacional. Essa popularidade pode ser vista também dentre estrangeiros. Lembremos que há alguns meses atrás, dois rappers americanos, negros, oriundos de um bairro pobre, compuseram uma canção sobre Putin, enfatizando-o como exemplo para a comunidade negra. No Brasil é mais comum vermos à venda chaveiros e camisas de times de futebol.
19 - As mulheres russas são em geral muito bonitas, essa é talvez a única coisa verdadeira que o ocidente publica sobre a Rússia. São em geral esbeltas, com longos cabelos e bastante femininas, dificilmente têm espinhas ou marcas na pele, talvez conservadas assim pelo clima frio. O mesmo se aplica às mulheres da Ásia e do Cáucaso que vivem na Rússia, geralmente morenas com longos cabelos, parecendo brasileiras. É muito raro na Rússia ver uma mulher com menos de 50 anos "acima do peso". É um MITO achar que todas as russas são altas. Talvez cerca de 30% delas tem mais de 1,75, mas a maioria tem até 1,70, isto é, também há muitas russas baixinhas.
20 - Os russos gostam bastante de ler, durante a época soviética eles eram tidos como o povo que mais lia no mundo. Se o brasileiro médio lê cerca de 1 livro por ano, segundo as pesquisas, os russos estão entre os 10 povos do mundo que mais leem segundo pesquisa da UNESCO de 2007. Por isso se você fazer muitos amigos na Rússia, desligue a TV e comece a ler um livro.
21 - Na Rússia percebi muito poucas TVs. Se no Brasil mesmo nos lares mais humildes encontramos TVs HDs de última geração, em alguns casos mais de uma, na Rússia, em muitas casas, incluindo de pessoas de maior poder aquisitivo como advogados, muitas vezes sequer há uma TV. Em alguns casos há TVs velhas, todos os russos que conheci que tinham uma TV disseram ter recebido "de presente".
22 - Os russos têm sempre uma biblioteca em suas casas, onde pode-se encontrar diversos tipos de livros, especialmente sobre história, assuntos profissionais e literatura.
23 - Russos gostam de longas discussões, não é raro que após elas eles convidem você para beber algo, cantar e tocar e se estiver muito tarde, dormir na casa deles.
24 - A sauna russa, conhecida como "baniya", é uma tradição para muitos, uma tradição que já não é tão comum devidos aos altos preços. É comum, dentro delas, usar uma "budyonovka" (gorro da época da Guerra civil), e tomar uma cerveja. Algumas são para um só sexo, outras unisex.
25 - A moradia é um problema nas grandes cidades russas, conhecidas por serem pequenas e bastante caras.
26 - Muitos russos apoiam a causa da "Novorrússia", um país em formação no Leste do Ucrânia, na região carbonífera do Donbass. Os russos tem feito muitos esforços para receber os refugiados da guerra e apoiado materialmente os combatentes do Leste da Ucrânia.
27 - É comum observar nas grandes cidades russas uma fitinha com as cores negra e laranja, trata-se da famosa "Fita Georgiana", uma fita bastante usada e gratuitamente distribuída durante o dia 9 de maio, o Dia da Vitória (sobre o fascismo alemão), data mais importante do país. Recentemente a fita ganhou um novo significado com os conflitos no Leste da Ucrânia, simbolizando também apoio à causa do Donbass. Muitos russos utilizam-nas em suas bolsas e em seus carros, geralmente amarrada no retrovisor.
28 - Os russos são bastante patriotas, muitos orgulham-se de seu país, alguns preferem a União Soviética, outros mesmo preferem o Império Russo. Uma minoria, porém expressiva, é mais voltada para o ocidente, geração influenciada pela Glasnost e pela Era Yeltsin.
29 - Um dos esportes favoritos dos liberais russos é falar mal da Rússia, um bom exemplo disso era Valyeria Novodvorskaya, liberal e anticomunista fervorosa que chegou a pedir aos EUA que invadissem a Rússia. Ela era deputada. Lembremos que atualmente um dos filmes russos que fazem sucesso no ocidente é "Leviatã", um filme feito por liberais cujo atrativo maior é "falar mal da Rússia".
30 - Há alguns filmes conhecidos por praticamente todos os russos, trata-se do russo "Brat 2", de ação, que para alguns foi instrumental para destruir o "sonho americano" na Rússia durante os anos 90, e das comédias soviéticas "Kavkazkaya Plennitsa" e "Zdravstvuyte, ya vasha tyotya". Elas contem muitas citações que hoje em dia fazem parte do cotidiano do russo.
31 - O cinema russo atual é muito ruim, nada comparado ao soviético. Muitos filmes são imitações de filmes Holywoodianos. Alguns filmes como "Legenda nomer 17", "Gagarin" e agora um filme sobre Lev Yashin melhoraram um pouco as coisas.
32 - Russos não tem problemas com filmes antigos, desde que sejam de boa qualidade. É comum em nosso país, quando falamos de um filme, alguém perguntar logo se o filme "é 3D" ou avaliá-lo com base em efeitos especiais purpurinados, esquecendo-se da mensagem do filme, da atuação, etc
33 - Nos cinemas da Rússia há em geral filmes americanos de Holywood.

34 - Tendo andado pelas ruas da Rússia, percebi muito pouco lixo nas ruas. Alguns russos, entretanto, dizem que as ruas da Rússia "são sujas e as da Bielorrússia são limpas". De fato, Belarus é conhecida por ter ruas exemplarmente limpas, todavia quando um russo disser que "as ruas são sujas", ele quer dizer "são limpas, mas há algumas pontas de cigarro", "são limpas, mas você pode ver algumas garrafas deixadas por aí". Em comparação com as ruas brasileiras as ruas russas realmente são bastante limpas.
35 - Na Rússia há 3 grandes religiões predominantes, o Cristianismo, adotado pela maioria da população, o Islamismo e o judaísmo. Além dessas há outras religiões na Rússia, incluindo o xamanismo e hinduísmo. Os cristão da Rússia são em sua esmagadora maioria ortodoxos.
36 - Apesar da Igreja Ortodoxa parecer com a Igreja Católica para alguns desavisados, ela é muito diferente. Em primeiro lugar, na ortodoxia não há "papa", há diversos patriarcas. O patriarca da Igreja Ortodoxa Russa é o patriarca Cirilo.
37 - O Patriarca Cirilo frequentemente aparece na TV da Igreja Ortodoxa pregando o respeito e a convivência com as demais religiões da Rússia.
38 - Apesar de ter 3 grandes religiões, na Rússia jamais houve uma guerra religiosa nas mesmas proporções do ocidente ou do Oriente Médio. É possível ver em várias cidades "templos das três religiões".
39 - Na Rússia é mais comum ver negros na TV ou em anúncios do que no Brasil, onde frequentemente são representados apenas como "escravos", "empregados" ou mesmo ridicularizados na TV. Lembremos que diferente do Brasil e dos Estados Unidos, a Rússia não conheceu a escravidão dos negros. Alguns, como Gannibal (avô de Pushkin), alcançaram status de nobreza, outros eram servos de alto perfil, para muitas famílias da nobreza russa era sinal de prestígio ter um servo negro, situação indicada na obra "Guerra e Paz".
40 - Muitos valores ocidentais são estranhos à Rússia, considerados "artificiais", como "imposição e colonização cultural". Lá a única "grande parada" é a Parada da Vitória em 9 de maio, quando é celebrada a libertação da Rússia e de outros países das hordas do fascismo alemão, nessa data o Alto-Comando do III Reich assinou a sua rendição incondicional ante o Marechal G. Júkov, em Berlim, no ano de 1945.
41 - Na Rússia, em especial em Moscou, há uma expressiva comunidade negra, geralmente estudantes de países da África. Por isso não se admire se você for um e alguém te perguntar se "você é universitário" (ty studyent?). Tendo conversado com muitos deles, muitos citaram como a principal dificuldade o regime nas universidades russas, que é muito puxado.
42 - A programação da TV russa, como a da maioria das TVs do mundo, em especial a nossa, é parte ruim, porém há excelentes programas de debates intelectuais como o "Poyedinok", com Vadim Solovyov, "Sud Vremeni", com Sergey Kurninyan e Svanidze, dentre outros. Esses programas são indiscutivelmente mais democráticos do que os ocidentais, já que apresentam pessoas com diferentes tendências políticas, liberais, comunistas, sociais-democratas, ocidentalistas, tradicionalistas, em vez daquilo que estamos acostumados a ver no ocidente, onde temos geralmente ou liberais ou sociais-democratas, todos ocidentalistas.
43 - Os programas musicais russos são geralmente muito ruins, quase sempre cópias baratas do showbussiness ocidental.
44 - Cantores populares na Rússia podem adquirir um sucesso expressivo na internet, sendo um bom exemplo disso o artista cossaco Igor Rasteryayev e a cantora russa Darya Kolesnikova, popularmente conhecida como "Nasha Dasha" (lembrem-se do que falamos sobre o "nash, nasha, nashe"). Eles transmitem a alma do povo, não se trata de música "comercial". Também é expressivo o sucesso de cantores como Pelageya, que canta sobre o folclore da Rússia antiga e dos cossacos.
45 - O Brasil está para muitos russos como o México para muitos brasileiros, isto é, ele traz lembranças da infância e da juventude por causa de suas telenovelas, que tinham enorme popularidade nos anos 80, ainda na União Soviética, e nos anos 90, na Rússia. Quase todo russo que já ouviu falar do Brasil assistiu pelo menos "O Clone", dentre a geração mais antiga temos ainda "Escrava Isaura".
46 - Na Rússia um dos mais famosos autores brasileiros é Jorge Amado, é possível encontrar nas livrarias e bibliotecas, especialmente a Tchitay-Gorod, obras de Jorge Amado em russo.
47 - Livros na Rússia são incrivelmente baratos! É possível encontrar edições de "Os Irmãos Karamazov" ou "Crime e Castigo" com capa de luxo por apenas 7 reais, e nós no Brasil pagamos mais de 60 reais por um clássico desses! Apesar disso muitos russos consideram esse valor caro (em comparação com a época soviética eles estão certos, na URSS eles custavam centavos).
48 - A terminologia "democracia" nem sempre é positivamente percebida na Rússia, isso por que para muitos russos ela representa o roubo de povos nas Américas, na África, os bombardeios na Sérvia, na Líbia, na Síria e as "centenas de toneladas de pura democracia" lançadas pelos bombardeiros invisíveis da OTAN. Em vez disso muitos preferem o termo "amizade dos povos", "poder popular", "poder responsável", etc
49 - Políticos russos são criativos. Um dos candidatos à presidência, o comunista Gennadiy Zyuganov (sempre o segundo mais votado), é autor de livros. Outro candidato famoso, Vladimir Jirinovskiy, canta suas próprias músicas de campanha, onde geralmente fala da Rússia ou critica os Estados Unidos.
50 - Os russos tem um grande respeito pelas suas personalidades históricas. Não há na Rússia um único monumento pichado, avistei flores depositadas em monumentos como o de Vadim Kuzmich e Zoya Kosmodemyanskaya, Heróis da União Soviética, no Metrô Partizanskaya, do Marechal Júkov, na Praça Vermelha, no Mausoléu de Lenin e no túmulo de Stalin, sempre em mais de uma oportunidade. Por isso se você for a Rússia, procure sempre uma floricultura para depositar flores nestes monumentos.