segunda-feira, 5 de março de 2018

Os segredos da beleza das russas

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"Basta passar trinta minutos na fila da CEF pra perceber que essa história do povo brasileiro ser o mais belo do globo é balela", escrevia um amigo em seu Facebook. De acordo com um site de viagens chamado "Bella Travel", o povo brasileiro é o mais belo do mundo. Na Rússia, muitas pessoas me dizem o mesmo, algumas, entretanto, são céticas, sempre dão ênfase a notícias de que "o Brasil é campeão de cirurgias plásticas". Eu jamais vi uma garota bela no Brasil que tenha recorrido a cirurgias plásticas, lipoaspiração talvez, ou implantes de silicone, mas isso é algo que nunca sabemos quando tratamos com uma desconhecida.

O mito da "brasileira mais bonita" vai rapidamente abaixo quando entramos em um lugar onde entra a gente comum, ou seja, não estamos falando de mulheres bem resolvidas na vida que tem tempo e dinheiro para passar horas na academia, mas de gente jovem que você veria no metrô de São Paulo, num coletivo, na escola, faculdade, etc. Nesse sentido há um diferencial enorme na Rússia, como certa vez me disse um amigo brasileiro que então havia acabado de se mudar para a Rússia, em qualquer lugar há gente bonita, porém o diferencial das russas é que muitas vezes aquela garota mais bonita que você veria em uma festa no Brasil, desejada por todos os caras, você vê habitualmente em quase toda garota que passa numa calçada da Rússia. Algumas pessoas se acostumaram com a ideia de que no Brasil, "mulher bonita geralmente é vista em shoppings". Na Rússia elas podem ser vistas em shoppings, museus, calçadas, bares, festas noturnas, festas tradicionais, na vizinhança... em suma, em praticamente todo lugar! E o que mais chama atenção, muitas delas são inclusive mães, têm entre 30, 40 anos, porém mantém o mesmo corpo de 20 anos de idade, algumas até são bem mais bonitas do que aos seus 20 anos. Qual o segredo delas para isso?

Um dos segredos da beleza russa está na ausência do feminismo, muitos viajantes que conheci, que estiveram ou viveram em países como a Finlândia, França ou Alemanha frequentemente comentam que as mulheres de lá "não se cuidam", não têm vaidade. Coincidência ou não, nesses países há muitas feministas, para a qual a preocupação com a apresentação individual, quesito indispensável para qualquer pessoa num meio que presa pela imagem, isto é, as sociedades humanas, consiste num "pecado mortal". Uma conhecida brasileira, bastante feminina e com ideias de esquerda, certa vez se queixou de como foi hostilizada e expulsa de um grupo feminista do Facebook por manter o cabelo longo, o que automaticamente a transformou numa "agente do malvado patriarcado", numa "traidora da causa". De fato, em muita coisa as feministas se diferenciam de um fanático wahabita do Estado Islâmico. Embora na Rússia exista algumas feministas, essas geralmente se passariam por qualquer coisa, menos por uma feminista, pois mantem uma aparência feminina, segundo um amigo a melhor forma de itentificá-las é por usarem óculos com aro grosso, não usarem maquiagem e gostarem de uculelê, é como um código dentre elas. É comum que na Rússia certos grupos ou tribos urbanas tenham um certo código que os identifica entre si e ante outros grupos. 

Não acredito em "predisposição genética" e muito menos em idealização da beleza branca, mesmo por que na Rússia, embora não seja comum, já conheci muitas negras muito bonitas, especialmente em São Petersburgo, talvez a cidade com o maior número de mestiços (por alguma razão sempre os encontrei quando morava na parte norte da cidade). Ao contrário das negras brasileiras, as negras russas não tentam parecer loiras e geralmente usam os cabelos em estilo afro, são bastante femininas, ao contrário das negras americanas, porém geralmente são muito fechadas e pouco comunicativas. As asiáticas da Rússia também sempre têm um corpo de modelo, assim como muitas garotas do Cáucaso. O fato, me parece, não está na etnia, e sim na alimentação!


Desde que me mudei para a Rússia, percebi que no Brasil as pessoas se alimentam muito mal, brasileiro gosta muito de se empanturrar com comida pesada, tomar cerveja ruim feita de milho transgênico com certa regularidade, comer buchadas, paneladas, feijão com arroz. Muitas pessoas creem que "comer bem é comer muito" até o ventre quase estourar. Aqui na Rússia as pessoas de uma forma geral comem grechka (trigo sarraceno) e salada, consomem pouca carne e muita verdura. É importante lembrar que somado a isso está o fator religioso, na religião ortodoxa, tradicionalmente não se consome carne durante os dias de quarta e sexta-feira. Muitos ortodoxos atendem ao "Grande jejum", que proíbe quase todos os alimentos de origem animal. Nos últimos anos também apareceram restaurantes vegetarianos e de comida hindu, porém, pra quê vegetarianismo quando se pode simplesmente seguir o jejum da Igreja Ortodoxa?

O que garante a duradoura "forma de modelo" das russas, a julgar por sua alimentação diária é a batata e um trigo conhecido como "grechka", os estudantes brasileiros de medicina me garantiram a superioridade desse alimento em relação ao feijão com arroz, além disso ele não contem glútem e seu preparo é facílimo, as garotas também consomem muita salada e muito raramente carne bovina, frango é sempre mais barato. Como poderíamos esquecer do pão preto, comum no café da manhã russo? Parece que dentre os alemães não é muito diferente. Certa vez conheci uma família alemã de SC que viajava pela Rússia, quando lhes apresentei um restaurante de prato feito com comida típica local, com borsch, elas comentaram que se parece com a comida alemã. Geralmente os nordestinos, que se alimentam de forma muito diferente, não gostam da comida da Rússia pelo costume de "se empanturrar" e tomar refrescos gaseficados. Há alguns Estados no Brasil nos quais as pessoas até se orgulham de seus refrigerantes locais, os paulistas se orgulham da "tubaína", os cearenses da "cajuína" (que um piauiense irá dizer que não tem nada de cajuína, e sim de refrigerante de caju), um maranhense irá falar com orgulho do "Jesus", noutros Estados provavelmente a gente do local irá apresentar um ou outro refri, mas por que alguém deveria se orgulhar de tomar veneno?!


Na Rússia pouco se consome refrigerante, apesar de que a tendência vem mudando desde 91. No Brasil até vodka é consumida com o refresco maldito, prática estranhíssima para os russos. Desde que cheguei à Rússia, conto nos dedos o número de vezes que tomei refrigerante. É difícil ver alguém tomando refresco, quase sempre consome-se chá. Recordo-me como na escola muitos colegas se riam quando eu falava que em vez de beber (na época eu tinha menos de 18 anos) eu preferia ficar em casa tomando chá, bebida que passei a gostar depois de enjoar de suco de acerola (com 5 pés de acerola no quintal, era o suco que eu tomava todo dia). Consome-se bolo com chá e quase tudo que você imaginar tem como acompanhamento o chá. Quando voltei ao Brasil após visitar a Rússia tentei caçar em Fortaleza um restaurante onde é servido chá, não achei um sequer. No Brasil as pessoas só tomam chá quando estão doentes, na Rússia há até restaurantes com diferentes tipos de chá, café só em firmas estrangeiras ou em alguns casos em lanchonetes de estilo soviético, a qualidade geralmente é uma porcaria, sem falar no preço caro, aliás, os únicos lugares onde pode tomar um bom café com leite como aquele que a sua mãe ou vovó fez pra você com carinho no Brasil, a exceção é o café do McDonalds.







O refrigerante, a "bomba de açúcar" é um mal capitalista ocidental que tem muito a ver com a miséria da gente do local, e que nos faz pensar sobre aquilo que escreve o grande mestre da literatura russa, Lev Tolstoy. O magíster russo escreveu certa vez que sob a miséria do Império Russo, os piores períodos de fome não eram aqueles de baixa colheita de trigo, e sim os de baixa colheira de uma espécie de erva daninha usada como "enchimento" para o pão. Assim, hoje no mundo contemporâneo, onde vigora o capitalismo como sistema hegemônico, usa-se um novo "enchimento" para os alimentos, o açúcar, incluindo aí o refrigerante, responsável pela miséria inclusive física da gente brasileira, onde de fato há um grande número de obesos. Na Rússia é muito difícil ver uma mulher obesa, mesmo as gordinhas geralmente são proporcionais, entretanto essa tendência tem mudado com o tempo.

Desde a introdução dos fast food ocidentais na Rússia, mais e mais jovens alimentam-se com "comida barata" de redes de fast food (um Big Mac custa cerca de 5 reais na Rússia), em cidades pequenas e vilas, onde a comida boa costuma custar mais caro e as pessoas recebem menos essa tendência é ainda mais assustadora. Em realidade, é a volta da velha fórmula, se no Império Russo, como escreve Lev Tolstoy, a fome costumava acontecer não em época de má colheita de trigo, mas em época em que uma planta de qualidade inferior não produzia o suficiente para "encher o pão" com porcarias, nos dias de hoje, em muitos países, o problema está não na falta de bons alimentos, mas sim no excesso de comida ruim, que o sistema neoliberal disseminou pelo país, ameaçando aquilo que sempre foi um cartão de visitas da Rússia junto com sua exuberante paisagem e sua cultura, a beleza de suas mulheres.

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