domingo, 11 de janeiro de 2015

Tatarstão, centro do islã na Rússia

Kazan, capital do Tatarstão, uma das sedes da Copa 2018. Ao fundo o rio Volga congelado.


Recentemente a Europa Ocidental foi abalada por um atentado em Paris. Embora nada justifique a barbaridade do crime, um dos lados criou as condições para tal, apresentando da pior e mais ofensiva maneira possível uma religião que faz parte da história, da cultura e das tradições de um povo há mais de mil anos. Na Europa Oriental, precisamente na Rússia, é diferente o tratamento dado a uma religião minoritária, o islã.

Em minha viagem à Rússia me senti estrangeiro em apenas um lugar, a República do Tatarstão. A Federação Russa é uma federação sui generis, nela há diversas repúblicas que gozam de autonomia superior a dos estados no Brasil ou nos EUA, por exemplo. O Tatarstão nada tem a ver com a "Tartária" por vezes retratada em filmes americanos, Tartária é o antigo nome para a Sibéria. O Tatarstão é, conforme seu nome sugere, o "País dos tártaros", um povo muito antigo com costumes e tradições próprias que faz parte da Rússia, fez parte da Horda mongol e há centenas de anos adotou o islã como a sua religião. Por muitos anos os tártaros oprimiram e escravizaram os russos, todavia isso mudou a partir partir da Batalha de Kulikovo, nos campos da cidade de Tula. Lá, Dmitriy Pojarskiy e Kuzma Minin formaram um exército popular que desafiou a autoridade dos tártaros. Ivan, o Terrível, completou o processo de libertação da Rússia com a invasão da cidade de Kazan. Para comemorar sua vitória sobre os tártaros, ele ordenou a construção da Catedral de São Basílio, que está na Praça Vermelha, e deu início a um processo de russificação de Kazan.

Hoje, no Tatarstão, cerca de 48% da população é composta pelso tártaros, os russos representam cerca de 43%, sendo minoria, os chuváquios e outras nacionalidades compõem o percentual restante. Os tártaros são diferentes dos russos fisicamente. Embora haja diferentes tártaros, por se tratar de um povo túrquico com raízes asiáticas, muitos tártaros seriam facilmente confundidos com alguém do Nordeste do Brasil, em especial do Ceará (composto em sua maioria por pessoas de descendência indígena). Alguém que vá a uma estação de trem em Kazan pode ter a ligeira impressão de que está numa rodoviária em Fortaleza (para a minha surpresa ao meu lado sentou-se até um negão, egípcio que morava na Rússia com sua esposa tártara, conforme me contou). Recordo-me quando em um trolebus conheci uma jovem tártara, ela se propôs a me ajudar a encontrar o endereço de uma amiga que estava doente. Sua aparência era totalmente incomum, possuía pele escura como uma brasileira nordestina, olhos puxados e cabelos completamente negros. Após encontrar minha amiga russa convidei a minha nova amiga tártara para sair conosco para uma pizzaria próxima, então após presentear minha amiga russa com uma miniatura da Estátua de Iracema, eu a disse que ela se parecia com Iracema, heroína do romance do escritor cearense José de Alencar. Para minha surpresa, ao contrário de muitos tártaros ela era ortodoxa, disse que seu apelido era "Mulatka" (mulata). 

 Matrioshka russa (esquerda) e matryoshka tártara (direita)

Todavia nem todos os tártaros étnicos tem a tez escura e olhos puxados. Logo em minha chegada em Kazan, tomei um taxi e vi uma bela igreja. Quando perguntei ao motorista qual o nome da Igreja, cuja cúpula refletia os raios solares, ele disse que não sabia, pois era tártaro, muçulmano. Quando eu lhe disse que ele parecia um russo, ele disse que há diferentes tártaros e muito tem olhos e tez clara, mas eles podiam ser diferentes, citando os tártaros de Kazan e os Tártaros da Crimeia como exemplo disso. Durante a época da II Guerra, era comum os alemães e italianos veicularem vídeos para as suas tropas onde mostravam prisioneiros tártaros e outros povos asiáticos como "prova de que os russos não eram europeus", numa tentativa de desumanizar o oponente exibindo as "Hordas tártaras que queriam dominar a Europa", o "novo império de Genghis Khan". Independente de aparência física, vale lembrar que na Rússia a constituição garante a etnia com base no critério de autodeclaração.

 A cantora pop tártara Alsu e o rapper tártaro-judeu Timati. Em seus passaportes são identificados apenas como "russos".

Um símbolo do Tatarstão é o Kremlin de Kazan, e por que não dizer, o próprio idioma tártaro, que é comumente utilizado na comunicação entre os tártaros em restaurantes, locais públicos, dentre outros. A estação de trem de Kazan emite informes de voz em russo, tártaro e inglês (em Moscou eles são dados apenas em russo). É comum andar por Kazan e ver placas com inscrições em tártaro e em alguns casos até em árabe, assim como encontrar em locais públicos exemplares não só da Bíblia, como do Alcorão. Em Kazan está a Mesquita de Kul Sharif, uma das maiores do mundo, situada no interior do Kremlin de Kazan, que também abriga um museu, uma loja de suvenir e possui uma zona de tiro onde se pode atirar com uma besta. Também é um ótimo lugar para recarregar o seu celular sem ter que pagar por uma tomada (sim, em Kazan quase sempre as tomadas são pagas!). Eventualmente, no Kremlin de Kazan, há encontros públicos de tango, que tem ganho um grande número de adeptos na cidade, russos e tártaros. A república é tida como um lugar de tolerância religiosa, fato expresso na presença de uma igreja convivendo com a mesquita no Kremlin Kazan, bem como no Templo de Todas as Religiões, onde encontra-se em um lugar um local de culto para cristãos, muçulmanos e judeus, em Kazan.

Templo de todas as religiões, durante o amanhecer, em Kazan.
Idependente da imagem passada pelos tártaros sobre seu país, há aspectos negativos que podem trazer bastante desconforto ao estrangeiro, que é a forma como os tártaros se relacionam com os outros povos, inclusive os russos. Uma amiga de Tula contou-me que foi melhor tratada em Lvov, fortaleza da russofobia na Ucrânia (onde é possível encontrar até pôsteres de propaganda da Waffen SS Galizen em locais públicos), do que em Kazan, onde é fácil se deparar com taxistas espertos, insistentes e pessoas intrometidas que procuram dizer ao indivíduo tudo o que ele deve fazer num determinado ambiente.

Se você for ao Tatarstão, uma das cidades-sede da Copa de 2018 e atual sede dos jogos conhecidos como "Universíadas", lembre-se das palavras do imortal escritor Lyev Tolstoy, "existe duas Rússias, a Rússia europeia e a Rússia das florestas, do fanatismo, dos tártaros". Atual ou não essa citação, é interessante lembrar que ir ao Tatarstão é "visitar uma outra Rússia", que muito pouco tem a ver com aquela com a qual estamos acostumados, é tomar contato com uma cultura que pouco tem a ver com a do homem ocidental ou mesmo russo, mas também uma Rússia onde não há guerras e nem terrorismo.

Meu retrato com a mesquita de Kul'Sharif, no Kremlin de Kazan.
Vista exterior do Kremlin de Kazan.

Na Rússia ninguém é preso por ser brasileiro



Por que algumas pessoas tem medo de ir à Rússia? Essa semana uma conhecida me disse como tinha "medo da Rússia", segundo ela o motivo era "por causa do Exército". Quando ouço esse tipo de comentários, tento encontrar uma explicação para esse tipo de contradição.

Os grandes escritores russos eram todos "do Exército", militares, sendo Dostoyevskiy e Tolstoy exemplos clássicos disso, todavia não entendo como pessoas que gostam de escritores militares tem "medo do Exército Russo". O fato é que o medo supostamente depende de uma justificativa, algo dê motivo para que alguém tenha aversão a algo, por exemplo, na infância se afogou, então se torna hidrofóbico, na juventude caiu de um lugar muito alto, por isso se torna acrófobo, etc. Jamais ouvi falar de qualquer brasileiro que "foi preso ou sofreu qualquer tipo de pressão pelo Exército Russo", pelo contrário, conheço um brasileiro que se tornou cossaco no Leste da Ucrânia e é muito bem tratado por milicianos oriundos da Rússia e da Ucrânia, assim como conheço um brasileiro que até conheceu um general em Moscou.

Ao contrário deste tratamento, entretanto, são constantes as queixas de brasileiros que estiveram em países como Portugal, Espanha e principalmente no Reino Unido. Os fatos estão aí para confirmar, a imigração espanhola deteve uma senhora de 77 anos no aeroporto internacional de Madri, isso mesmo, não se tratava de um "jovem parecido com traficante", de uma "jovem parecida com uma prostituta" (uma opinião compartilhada por parte da sociedade daquele país). O luxo que o governo da Espanha oferecia para a dona Dionísia Rosa no aeroporto de Madri era um banco de madeira e uma cama de arames, isso para uma senhora que já teve derrames e problema na coluna. Alguém pode se indignar com isso, mas lembre-se, os policiais espanhóis estavam "apenas seguindo ordens" (alguém já percebeu como pessoas que cometem atos crueis e desumanos sempre dão a desculpa de estarem "apenas seguindo ordens"?). Ah, não deve se esquecido que os espanhóis riam bastante da pobre idosa de 77 anos. 

Se alguém acha que isso é acontece apenas a "marinheiros de primeira viagem", relato a situação pela qual passou uma eminente colega de trabalho minha, cujo nome prefiro manter no anonimato. Embora seja mãe de dois filhos e tivesse emprego fixo na Alemanha, fluente na língua alemã, como os seus dois filhos, ao tentar entrar no Reino Unido para fazer um curso de inglês, mesmo mostrando todos os motivos e apresentando os documentos ela foi presa pela imigração britânica durante dois dias no aeroporto, em uma cela de péssimas condições. Caso alguém ache que se trata de "um caso isolado", devo lembrar ao leitor que o Reino Unido é o país que mais prende brasileiros na imigração, segundo o jornal Folha de São Paulo! Os brasileiros são seguidos pelos mexicanos e americanos, que representam 4% dos detidos, e pelos turcos (3%).

E se alguém acha que pode ser algum problema de comunicação, muitos brasileiros também se queixam da forma como são tratados em Portugal. Uma prima do autor desse texto, casada com um pintor francês, se queixou do tratamento humilhante e do preconceito constante recebido na terra lusa. Desconheço que tipo de educação é dada aos lusos, mas é bem comum ver, por exemplo, no site de vídeos Youtube comentários racistas dos portugueses, onde frequentemente se referem aos brasileiros como "corja de pretos".

E o grande ponto desse texto é, por que com tantos países onde os brasileiros são odiados e hostilizados logo na porta de entrada, isto é, o setor de imigração, tanta gente tem "medo da Rússia"? "Medo de Putin"? Deveriam sim ter medo da Rainha Elizabeth II, da Inglaterra, de Portugal, do Rei Juan Carlos, da Espanha, da União Europeia talvez (respeitando o tratamento respeitoso dado por países como a Alemanha, Suíça e outros). Essa russofobia precisa acabar!

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

O que trazer da Rússia?

Esse artigo é voltado para turistas que visam trazer algum suvenir da Rússia. Um artigo será criado para homens de negócio que visam importar máquinas e outras tecnologias que empresas russas tem oferecido no mercado brasileiro, com os devidos contatos.


É normal e quase religioso que quem vai a um novo lugar costuma trazer alguma coisa daquele lugar como lembrança, seja para si ou para outrem, uns preferem trazer eletrônicos, outros preferem trazer algo típico do artesanato local, uns até compram a indumentária, outros não trazem nada e outros trazem tudo que podem, conforme o seu dinheiro permite. O blog "O descobridor da Rússia" procurou listar algumas coisas que se pode trazer da Rússia para todos os gostos!

- Eletrônicos

Comprar eletrônicos na Rússia está muito barato agora com a queda do rublo. Alguns modelos de celular (não me pergunte quais por que para mim é falar grego) de última geração (isso foi me dito por parentes que todos os dias pediam por um e entendem do assunto) podem ser obtidos na Rússia por até R$ 1000,00 a menos do que seus modelos no Brasil. Também há muitas câmeras que podem ser conseguidas por valores vantajosos na Rússia, os russos gostam muito de tirar fotos, vendedores gostam de vender, e compradores gostam de bons preços, e com o rublo em baixa, como meus amigos costumavam dizer, qualquer um que leve quantias como 1000 dólares torna-se rei na Rússia no presente momento em que esse artigo foi escrito.

A Rússia possui a maioria dos eletrônicos que podem ser encontrados nos principais Estados europeus, nos EUA, China e Japão, todavia não localizei os últimos modelos de câmeras como a Go Pro 4, ainda mais agora com o enorme número de sanções contra a Rússia.

Onde conseguir: em qualquer centro de comércio na Rússia (designados muitas vezes pela inscrição ТЦ), recomendo o centro de comércio Yevropeyskiy, perto da Yevropeyskaya Ploschad (Praça Europeia).

- Indumentária



A Rússia é um país milenar, com um povo que desenvolveu todo um jeito de ser e de se vestir. Se até o povo do Ceará, um povo que tem algumas poucas centenas de anos, confecciona roupas de rendas que impressionam a todos quem vem de outras partes do Brasil e do mundo, a Rússia com sua milenar história também o faz. Embora muitas sejam feitas de forma industrial, é possível encontrar roupas típicas russas manufaturadas.



Além das camisas típicas, é possível comprar na Rússia belíssimos chapeus para o frio que podem ser confortavelmente utilizados no sul do Brasil ou mesmo no Sudeste durante o inverno. Também há belíssimas roupas infantis e colecionadores podem facilmente encontrar no Vernizaj de Izmaylovo uniformes do Exército Vermelho, do Exército Imperial Russo, dos exércitos da OTAN e uniformes de cosmonauta do Programa Espacial Soviético ou elmos de piloto de MiG. Excluindo-se os elmos e uniformes espaciais, as peças de roupa em Izmaylovo tem preços que variam entre 800 a 5000 rublos (R$ 35,00 a R$ 225,00). É possível também encontrar em Izmaylovo uniformes da Alemanha Oriental, do III Reich e até réplicas da submetralhadora alemã MP-40, para colecionadores, atores, etc. Lembrando que o rublo está em baixa neste momento.

Onde encontrar: No Vernizaj de Izmaylovo, próximo da estação Partizanskaya. Tome um metrô até a estação Partizanskaya, saia, atravesse a rua e você verá o "Segundo Kremlin", o "Kremlin Branco", de Izmaylovo. Logo na entrada há um mercado com um grande número de suvenires.

- Podstakanniki (Porta copos)

Podstakanniki com cavaleiros medievais retratados
Talvez você nunca tenha ouvido falar dele, mas se você já assistiu filmes sobre a Rússia ou sobre a União Soviética certamente já deve ter visto um. Podstakanniki podem ser vistos em filmes americanos como "Caçada ao Outubro Vermelho" (com Sean Connery), em diversos filmes russos, dentre outros. Mas para que serve isso?

Um podstakannik é uma espécie de "porta-copos" feito para tomar chá. Alguns podem confundi-lo facilmente com uma caneca ou xícara adornada, mas não é. Em realidade trata-se de uma armação de metal típica da Rússia (você não encontrará no comércio no Brasil, e eu pessoalmente já procurei em 10 diferentes lojas, incluindo lojas de artigos de luxo em Fortaleza). É muito usada em trens, a fim de garantir maior apoio ao seu copo de chá quente, além de ser uma boa propaganda da empresa de trem. Também é um artigo típico da Rússia e excelente suvenir.

O podstakannik existe desde a época do Império Russo, todavia antes era um artigo de luxo acessível apenas para a nobreza. Com o advento do socialismo e da União Soviética, ele foi popularizado, trazendo diversas gravuras comemorativas e modelos, sendo os mais comuns a águia bicéfala da Rússia ou o brasão da União Soviética. Se você quiser algo mais exótico, poderá encontrar podstakanniki em estilo "steampunk", em ouro, ou com retratos de líderes políticos para todos os gostos, por exemplo, com Nikolay II, Lenin, Stalin ou Putin. O podstakannik é tipicamente russo, digamos que no aspecto exclusividade ele está para a Rússia como uma cuia de chimarrão está para o Brasil! Aqui podemos ver alguns deles, não apenas acessórios para chá, como ótimos adornos:















Também é uma boa opção para quem quer comprar algo suntuoso da Rússia, mas está com a bagagem pesada demais para trazer um samovar!

Onde encontrar: Pode ser localizado facilmente em lojas de suvenir, em especial, alguns modelos da foto acima podem ser encontrados na rua Arbat, nas lojas da estação de metrô Biblioteca V. I. Lenin e no Vernizaj de Izmaylovo. Os preços variam, podendo ser encontrados por 40, mas também por mais de 150 reais, tudo depende do modelo e do material empregado. Alguns vem com o copo incluso. Como alguém que trouxe 3 pratos de porcelana na bagagem e já levou copos de vidro com arte em areia típicas do Ceará sob uma longa turbulência sobre o deserto do Sahara, o autor deste blog pode garantir que uma bagagem bem organizada chegará com ele e o copo de vidro inteiro!


- Armaduras medievais

O autor do site, experimentando uma cota de malha variegue
A Rússia nem sempre foi apenas Federação Russa, União Soviética ou Império Russo. Ela também foi um conglomerado de feudos como o Principado de Kiev, o Grão-Ducado de Moscou ou de repúblicas como a República de Novgorod, os tempos dos cavaleiros russos, chamados em russo de vityazy ou bogatiry (por causa de gírias do Rio Grande do Norte, acho que a primeira denominação soa melhor), isso quer dizer que a Rússia também teve guerreiros de armadura, e se teve guerreiros de armadura, isso quer dizer que tinha ferreiros.

Muitos colecionadores de espadas e armaduras têm conhecimento da excelente qualidade das armaduras de placas feitas na Espanha, das armaduras de malha e de placas feitas na Alemanha pela Escola de Nurembergue, mas poucos conhecem as armaduras de malha e escamadas feitas na Rússia.

As armaduras usadas pelos guerreiros e cavaleiros russos em muitos aspectos lembram as dos guerreiros variegues, os vikings, seus elmos eram frequentemente inspirados em elmos dos persas e algumas de suas armas baseadas em armas feitas na Índia.

É possível também encontrar vários tipos de armaduras baseadas em outros modelos, especialmente ocidentais, Império Romano e Horda Dourada. Além de escudos da Ordem Teutônica ou réplicas do escudo de Alexander Nevsky.


Onde encontrar: Na loja Donjon (em um centro de comércio em frente à saída do metrô Volgogradskiy Prospekt), num porão subterrâneo, ou na loja Mir Drevnosti (Mundo de Antiguidades) na rua Taganskaya. Uma cota de malha sai por não menos que 600 reais.

Nota importante: Comprar um escudo customizado como o da Ordem Teutônica ou de Alexander Nevsky requer 1 semana ou mais para a confecção do produto, que é feito por um mestre artesão. Por isso se você pensa em comprar um armadura ou escudo na Rússia, é melhor encomendar assim que chegar!


- Livros



Quanto você acha que custaram esses livros acima? Uma senhora a quem eu mostrei arriscou dizer que 80 reais. Em verdade, num país onde livros são artigos de luxo para poucos que podem pagar muito e uma maioria pode ser facilmente seduzida e controlada pela TV, onde ler é "coisa de nerd", esse valor seria normal no Brasil, mas não na Rússia! 

Por muitos anos, na época do Império, livros eram um artigo de luxo na Rússia, mesmo por que a maioria da população sequer sabia ler. Até 1917 o percentual de alfabetização na Rússia era inferior a 40%. Dentre algumas nacionalidades o índice de alfabetização era de apenas 0,2%. Sobre o Tadjiquistão, ex-república soviética e ex-quintal do Império Russo, dizia-se encontrar alguém alfabetizado era como encontrar uma árvore frutífera no meio do deserto.

Com a Revolução de Outubro, Vladimir Lenin, filho de um educador renomado premiado inclusive pelo tzar por serviços eminentes prestados à educação no país, tornou os livros, que eram então artigo de luxo, em um artigo de necessidade tal como um pão. Durante a Era Soviética livros custavam centavos, tal como um pedaço de pão. Com a reintrodução do capitalismo na Rússia, os livros se tornaram mais caros, todavia ainda assim mais baratos do que no Brasil. Clássicos com capa de luxo como "Os irmãos Karamazov", "Crime e castigo" e "Na Crimeia", dois de Dostoyevskiy e o último de Kuprin, custam apenas 200 rublos na Rússia, isto é, cerca de 7 reais, isto é, saem praticamente de graça!

Recordo-me quando na época da escola, com meus 14 ou 15 anos, eu guardava dinheiro do lanche, deixando de comer no intervalo, para poder comprar clássicos da Editora Paz e Terra, livros de bolso, por R$ 2,90 (até hoje tenho alguns desses, A Arte da Guerra, O Príncipe, Sobre modernidade, Enéias...). Aos 15 anos obtive "Os irmãos Karamazov", sendo não raramente caçoado pelos colegas que achavam pra lá esquisito que alguém "lesse um livro no intervalo". Esse foi o país em que cresci.

Na Rússia, é comum estar no metrô e ver pessoas lendo, visitei diferentes russos, uma advogada, um operário, uma funcionária de RH, uma padeira, estudantes, um comerciante, um ferroviário, um militar, uma bancária... todos eles tinham uma coisa em comum, sua própria biblioteca logo na primeira sala! E os livros não eram apenas de enfeite, eles demonstravam conhecimento acerca do que liam. Eu me recordo quando trabalhava como operário em um hotel, quando eu tinha que fingir ser estúpido e odiar livros para não ser antipatizado ou tido por "metido". Dizia que "lia apenas para passar o tempo" se era flagrado lendo algum clássico.

Na Rússia, em muitas ocasiões, eu sequer acreditava em coisas que via ou ouvia, era como se estivesse passeando pela minha própria imaginação. Recordo-me de uma cena, na propriedade-museu de Lyev Tolstoy, quando uma amiga descrevia com naturalidade sobre um livro que leu, não pude me conter... pedi a ela que repetisse o que disse e abracei a ela e outra amiga que estava conosco fortemente. No Brasil há pessoas que leem, porém isso se limita a alguns círculos, infelizmente, são a exceção, ao passo que na Rússia são a regra.

Na Rússia, com um livro na mão você pode fazer amigos com mais facilidade e inclusive admiração, por isso mesmo que você não goste de ler, é bom ter um para você, nem que seja apenas de enfeite, pois isso poderá lhe garantir boa reputação. Também há uma grande variedade de manuais de língua e segundo uma amiga que agora entra no ramo do empreendedorismo, a Rússia possui a melhor escola de empreendedorismo, com muitas publicações respeitadas sobre o assunto.

Onde encontrar: Nos "sebos russos" da rua Arbat ou no Museu Mayakovsky se você quiser clássicos antigos sobre filosofia, de autores que são censurados no ocidente, tais como Lenin e Stalin, ou em livrarias especializadas, tais como a Tchitay-Gorod ou Biblio-Globus, que ocupa um quarteirão inteiro, vizinha ao Museu Mayakovskiy, perto da estação de metrô Lubyanka (antiga sede do KGB e atual sede do FSB).

- Estatuetas

Assim como outros povos antigos da Europa, como os ingleses e poloneses, a Rússia tem uma expressiva comunidade de ferreiros que procura desenvolver o seu artesanato usando-se de vários materiais tradicionais como o ferro, aço, prata e ouro, e outros materiais mais recentes como as ligas de zamak. Uma das expressões desse artesanato é arte de confeccionar estatuetas de metal com os mais diversos temas, desde heróis mitológicos da Rússia medieval, passando pela Rússia dos tzares, até cavaleiros vermelhos, bolcheviques, resistentes do Donbass, e miniaturas de monumentos da Rússia e da Ucrânia.

Embora essas artesãos também confeccionem samurais, mosqueteiros e outros guerreiros de outras culturas, focaremos nos guerreiros relacionados com a cultura russa.

Miniatura do soldado resistente da Mamayev Kurgan, de Stalingrado. Localizado aos pés de uma das maiores estátuas do mundo, o monumento russo, com a face do Marechal Tchuykov, resiste jogando uma granada e empunhando uma PPSh-41
Estatueta de ataman cossaco. Os cossacos eram camponeses guerreiros do sul da Rússia, eram uma formação militar independente que combatiam os turcos, os tártaros e os poloneses, defendendo as fronteiras da Rússia.
Streltets. Os streltsy foram mosqueteiros russos que defenderam o país na época de Ivan, o Terrível até a época de Pedro, o Grande, quando foram dissolvidos. Eram militares de elite, que chegaram a se tornar uma ameaça política.
Drujinik russo do século XIII. A Drujina era uma formação militar russa da Idade Média, formada pelos melhores guerreiros. De acordo com muitos, foi da Drujina que veio a palavra russa para "amigo", drug
Drujinik com espada e escudo
Vladimir Lenin, fundador da União Soviética e líder da Revolução de Outubro de 1917
Busto do tzar Aleksandr, conhecido por enfrentar Napoleão Bonaparte, citado várias vezes em "Guerra e Paz"
Monumento a Tatischev e de Gennin, fundadores de Yekaterimburgo
Símbolo da cidade de Perm. O símbolo é auto-explicativo, Rússia, floresta, urso... certo!
Grão-Príncipe Yuriy Dolgoruki. Miniatura vista na Praça Pushkin de Moscou, fundador da cidade de Moscou. Grão-Príncipe de Kiev e Príncipe de Suzdal.
Preço aproximado: Entre 150 e 400 rublos (pela cotação de 02/11/2015, entre R$ 9,00 e R$ 27,00)