domingo, 24 de janeiro de 2016

Criada no Instagram a tag #descobridordarussia

A partir de agora muitos fatos notáveis da nossa viagem podem ser acessadas no site fotográfico Instagram através da tag #descobridordarussia

Do banho russo ao batismo no lago de gelo: a sauna russa




A vontade que tenho ao escrever esse artigo é ignorar que o blog é lido em português e escrever "banya" e "prorub", mas a minha consideração para com os leitores me força a conter o meu vocabulário russo para aquilo que é melhor descrito com o vocabulário russo e tudo que ele representa nessas duas circunstâncias únicas.

Eu me recordo quando lia um belo blog sobre a Rússia, escrito por um patriota, que trazia a foto de um homem em um lago congelado e a legenda "nós russos somos feitos de um material muito especial". De fato, esse material, presente não apenas nos russos, se chama "vontade", e aquele que vem à Rússia está categoricamente convidado a seguir esse estilo de vida, vontade de viver, de ser livre, de aproveitar aquilo que a Rússia coloca ao nosso alcance, e sem dúvidas, uma das coisas mais belas que há na Rússia é o seu inverno. Se não escrevi ainda, os russos adoram o inverno, quanto mais típico e tradicional ele é, mais saberá ver a beleza dessa época do ano que os possibilita andar de patins no gelo, esquiar, andar de snowboard... É no inverno que vovós puxam os seus netinhos em boias ou trenós pelas ruas, eles deitam contentes, alegres com a sensação, o que talvez não seria possível ver sob um calor de 30 ou 40 graus, por exemplo, quando tais vovós ou simplesmente mães morreriam de cansadas!

E sem dúvidas, uma das melhores coisas a fazer no inverno é entrar em um "banho russo". Sem dúvidas, também funciona em outras épocas do ano, mas no inverno é ainda mais interessante. O banho russo (ou sauna russa, como queiram), é uma tradição muito antiga do povo russo. Alguns se apressam para explicar que "com a dilatação dos poros as impurezas saem do corpo", outros preferem "ter medo do choque térmico", outros preferem simplesmente sentir esse momento único. Meu primeiro banho russo se deu na cidade de São Petersburgo, com a minha amiga Yelyena, uma russa dessa cidade com quem me encontrei pela primeira vez em Moscou. Com ela e seu namorado fomos até uma sauna fora da cidade, em geral as melhores saunas da Rússia ficam fora da cidade, pois lá tudo é natural e há lagoas congeladas. Em geral, na Rússia, nas cidades, não costuma haver lagoas congeladas, e raramente são usados rios para banho gelado, pois se a correnteza arrasta alguém para baixo do gelo, pode-se dar adeus ao infeliz.

A minha chegada na sauna foi tranquila, meus amigos haviam feito uma reserva para mim. As saunas russas trabalham com reservas, pois sempre há pessoas querendo usá-las. Entrei numa salinha, numa casa de madeira, e percebi que ficaríamos não em três, mas em quatro, pois havia um gato que dormia tranquilamente no interior da sala (o infeliz até me arranhou depois de muito mimo!). Após nos despirmos, estava achando tudo muito fácil, até descobrir que estava apenas na ante-sala. 

A cena era bem típica da Rússia, um mujique colocava lenha na fogueira, literalmente, que aquecia a sauna, na qual sentávamos e conversávamos. A sauna é seca, porém recebemos um balde de água, que altera facilmente a umidade do ar à medida em que liberamos algumas gotas na madeira queimada. O cheiro é muito agradável, devido à qualidade da madeira e a temperatura é muito alta. Minha amiga teve a preocupação de me alertar para algumas precauções caso eu passasse mal, pois era a minha primeira vez. Entretanto, a coisa seria bem diferente. Não se subestima alguém que morou numa cidade conhecida como Teresina, a capital mais quente do Brasil! 

Numa sauna russa você literalmente cozinha, a coisa é tão séria que chequei a ter uma queimadura leve com a minha própria corrente, no pescoço. Nem mesmo o metal suportou o calor, mas eu suportei. Meus amigos saíram correndo da sauna para ir até o "prorub', o buraco em uma lagoa de gelo, gelo esse que ainda era fino, sutil, devido ao anormal inverno russo do final de 2015. Quando meus amigos voltaram ficaram surpresos com o fato deu ainda estar dentro da sauna, cantando diferentes canções soviéticas. Nessa ocasião então saí da sauna. Meu corpo estava tão "fervido" que mesmo estando sem roupa e mesmo sem chinelo sequer senti o frio externo, pedi à minha amiga para que filmasse a minha entrada na lagoa gelada, e assim foi.

Que louco entraria na água gelada, ou melhor, congelada? Perguntam alguns! Mas é aí que está o segredo da sauna russa, o fato do seu corpo estar completamente fervido pelo calor torna você quase imune ao frio, inicialmente há um certo choque térmico quando você põe os seus pés na água gelada da lagoa, mas ele é passageiro, quando você está na água gelada totalmente aquecido, nem parece que você está na água gelada. O impacto será sentido, entretanto, quando você imerge a sua cabeça. Nessa hora não é recomendado abrir a boca, pois os dentes não irão gostar da sensação.

O que mais surpreendeu foi ver ao meu lado um vovô que estava no lago tranquilo, como se na água quente estivesse, ele a tudo observava indiferentemente, na maior tranquilidade. Foi quando eu vi que eu poderia fazer o mesmo. Fiquei na lagoa, esquecendo a noção de que se tratava de água gelada e num ambiente de temperatura negativa, e me senti como o vovô. Saí da água e fiz o que outros estavam fazendo, fui para a lateral da isbá e observei a natureza ao redor. Ao redor do corpo dos que saíam do lago parecia haver uma aura, era o calor do corpo que entrava em contato com o ar-frio. Com os meus amigos, durante quase 5 minutos, e outros desconhecidos, ficávamos observando a natureza, fazendo flexões, conversando... como se estivéssemos numa praia sob 40 graus, nós tínhamos o calor, só que ele não vinha de fora, e sim de dentro de nós, essa é a carta na manga da sauna russa, é nisso que está o seu barato! Alguns passam neve no corpo e praticamente não sentem o frio. Após o período, claro, voltamos à sauna e fizemos o mesmo ritual, claro, com uma massagem de "surra de folhas de bétula". É muito agradável quando as folhas de bétula estão umedecidas e alguém bate em você com elas, não provocam dor, mas distribuem a umidade pelo seu corpo até ela evaporar, produzindo uma sensação agradável. Pedi à minha amiga Yelyena e ao meu amigo Andriey que imaginassem que eu xinguei as suas mães.

A grande sensação da sauna russa no inverno está na chance única de unir, tal qual como as pontas de um laço, o calor e o frio extremo, um neutraliza o outro. De volta à sauna, me perguntaram se eu havia feito academia para suportar o calor extremo, mas apenas respondi que morei em Teresina, uma sauna na qual andamos de roupas.

Dois amigos que tornaram a experiência da sauna russa possível, Yelyena e Andriey

Até São Petersburgo, uma avaliação crítica da cidade

Se você é o típico turista interessado unicamente em conhecer novos lugares e postar fotos no Instagram com um belo monumento, sugerimos que você estará apenas perdendo tempo ao ler este artigo e indicamos outros do Descobridor da Rússia, mas se você se interessa pelo que eu chamaria de "turismo crítico", com o intuito de conhecer a história do local, o significado de uma simples pedra no meio de seu caminho, esse artigo revelará algumas impressões sobre a capital do norte.

No quesito beleza São Petersburgo fica num patamar indiscutível, fotos minhas em São Petersburgo tiveram um índice altíssimo de curtidas no Instagram e no Facebook e minha mãe mesmo chegou a dizer que "achou São Petersburgo mais bonita". A minha chefe de trabalho muitas vezes perguntou se eu fui a São Petersburgo, pois "dizem que a cidade é muito bonita" e operadores de turismo, precisamente, de transatlânticos, promovem viagens passando pela cidade às margens do Báltico, no Golfo da Finlândia. O que poderia haver de errado com uma cidade assim?

Como escrevi em artigos anteriores, em minha primeira viagem à Rússia decidi não ir à São Petersburgo, o roteiro que fiz previa a visita a cidades antigas e algumas cidades da Horda, incluindo aí Kazan (capital da Horda Nogay) e Volgogrado (antiga Stalingrado e capital da Horda de Ouro), entendendo ser uma viagem "mais russa". Deixei São Petersburgo para uma segunda viagem por julgar que a capital era uma "cópia de cidades europeias", usando o termo clichê, uma "janela para o ocidente".

Se remetermos ao filósofo italiano Nicolau Maquiavel, "na história há poucos originais, os homens tendem a copiar aquilo que faz sucesso", assim, em qualquer grande cidade do mundo encontraremos cópias. Em Fortaleza, alguém do interior pode se impressionar com a catedral metropolitana sem saber que ela é uma cópia da Catedral de Notre Dame, francesa, no Sul alguém pode ficar maravilhado com gramado e canela, sem tomar em conta que muitos de seus museus e a cidade em si é uma cópia de vilas germânicas e museus europeus e americanos, lá o turista paga um valor considerável pelo que nos EUA ou mesmo numa cidade do interior da Rússia como tula o turista vê de graça em um bar temático. Em Moscou encontramos um estilo inspirado na Rússia antiga, mas também encontramos elementos bizantinos, barrocos e até babilônicos, pois a arquitetura soviética, especialmente a chamada "arquitetura stalinista" tem por base a arquitetura babilônica. Basta comparar, por exemplo, o Mausoléu de Lenin, no exterior do Kremlin, com a as catedrais e prédios no interior do Kremlin de Moscou. O próprio Kremlin de Moscou em si, originalmente branco, hoje é vermelho, e isso não é um trabalho de "comunistas malvados iconoclastas", o vermelho foi adotado ainda sob o tzarismo, no século XIX. É necessário entender essas premissas para fazer uma crítica bem elaborada à cidade de São Petersburgo.

Muitos russos criticam a arquitetura de São Petersburgo, em especial aqueles que estiveram na Itália como minha amiga Yelyena, que comentou que as catedrais de Santo Isaque e a de Nossa Senhora de Kazan parecem versões da Basílica de São Pedro desmontadas em duas partes. Talvez alguém pensou, "se em Roma a catedral de Pedro é assim, vamos dar à Terceira Roma uma catedral igual", afinal, lembremos que os tzares russos proclamaram a Rússia como a "continuadora do Império Romano", sucessora de Bizâncio. A catedral de Santo Isaque lembra o prédio principal da Basílica de São Pedro, a catedral de Nossa Senhora de Kazan lembra as alas que compõem a praça principal do Vaticano. Se parte da nobreza europeísta pensou nos tempos de Pedro e Yekaterina II, que fechou mais de 70% dos mosteiros russos, usando-os inclusive como prisão, em fazer da Rússia um país católico, para fazer esses nobres mais "sofisticados e superiores ao campesinato atrasado e ortodoxo", há até um termo para isso em inglês, muito usado nas redes sociais e jogos, "welfare", assim, construiu-se uma espécie de "catolicismo welfare", melhor dizendo, construiu-se uma espécie de "ocidente welfare" em São Petersburgo, uma tendência que chegou a ser duramente criticada com a sabedoria da literatura de Lyev Tolstoy, que em sua obra "Guerra e Paz" critica um personagem que passa a ter aulas de russo, pois conversava com a nobreza apenas em francês, já que o russo era a língua dos mujiques, da "ralé". Assim, parece que em certo grau desenvolveu-se em São Petersburgo essa ideia de que São Petersburgo é a "Europa culta, contra a ralé mal-educada e atrasada da Rússia", assim vemos em São Petersburgo artistas que imitam artistas europeus, que em suas guitarras caras e potentes tocam hits do Guns and Roses e de outras bandas ocidentais em frente a pontos turísticos como a Catedral do Sangue Derramado, e esses artistas se recusam a tocar hits russos, pois tem-se a impressão de que eles mesmos têm "vergonha de serem russos, mas orgulho de serem europeus".

Se há algo inquietante em São Petersburgo é a mentalidade de alguns russos no estilo "olha, eu sou europeu, tenho vergonha de ser russo, o ocidente é muito bonito e nós também somos ocidentais, somos cultos e a nossa cidade é tourist-friendly", essa mentalidade é traduzida em vários aspectos da vida cotidiana. Lembremos que São Petersburgo foi construída pelo trabalho escravo de prisioneiros de guerra suecos que concretizavam aquilo que desenhava o que engenheiros holandeses, italianos e alemães colocavam no papel, como nos sugerem vários historiadores russos e mesmo livros de teor turístico como "Imperatorskiy Peterburg" (Petersburgo imperial), o próprio nome da cidade sequer é russo, é apelativamente ocidental, no etnos russo não há "burgos", há "posad", há "gorod" (como em Novgorod), há "grad", há "kremlin", "lavra"... lembremos que em São Petersburgo não há um kremlin. Burgo é algo eminente ocidental, e durante a IGM o nome da cidade chegou a ser mudado (antes mesmo dos bolcheviques) para Petrogrado, os bolcheviques apenas surfaram nessa onda e renomearam para "Leningrado".

Enquanto cidade ligada ao ocidente, São Petersburgo foi a cidade russa que primeiro adotou o marxismo, ideário em voga entre a intelectualidade europeia no início do século XX, ironicamente há um número expressivo de cidadãos de São Petersburgo que inquietam-se com a ideia de "União Soviética" e nos dizem como o "comunismo foi ruim e a União Soviética é um atraso de vida", lembrando que nos últimos anos do poder soviético Leningrado foi uma das primeiras cidades soviética a ser "dessovietizada", retomando o nome "São Petersburgo".

Influi também o fato de que a cidade é um porto, assim muitas misérias que vemos em cidades portuárias do Brasil nós também vemos em São Petersburgo. Como dizia um professor meu de Areia Branca, cidade porto do estado do Rio Grande do Norte, "em cidade portuária tudo entra mais rápido". Na era soviética, em São Petersburgo entravam discos proibidos de bandas ocidentais, mesmo criou-se a expressão "rock de São Petersburgo", pois lá floresceram muitas bandas que viriam a fazer sucesso na URSS nos anos 80 e nos anos 90, de São Petersburgo também vêm os oligarcas que tomaram conta do país dos sovietes nos anos 90, cleptomaníacos profissionais que tornaram-se os novos boiardos da Rússia pós-soviética, os Sobchak, os irmãos Rotemberg, Timchenko, Nesis e outros. Lembremos que foi o prefeito Sobchak que arquitetou a mudança de nome de "Leningrado" para São Petersburgo", um brilhante matemático e também brilhante na arte de se apossar das riquezas construídas por meros mortais soviéticos. Sua filha, Ksenya Sobchak, é considerada a "Paris Hilton russa", verdade, menos vulgar, mais comportada, mas uma das cabeças do canal "Dojd", considerado o favorito dos liberais, em pleno Dia da Vitória o canal chegou a propor que talvez a Rússia teria ficado melhor nas mãos de Hitler do que enquanto "país dos sovietes", declaração estranha se considerarmos que São Petersburgo, ou melhor, Leningrado, detém o título de "Cidade Herói".

Os leitores que acompanham este blog podem comparar cidades-heróis visitadas pelo descobridor da Rússia como Moscou, onde se fala no "Parque da Vitória", em incríveis monumentos dedicados à vitória na IIGM, mesmo pequenas cidades como Tula, na qual no centro encontramos uma versão luminosa da estrela dourada de "Herói da União Soviética", mas o que encontramos em São Petersburgo referente a esse glorioso momento exaltado pelo poeta e escritor brasileiro Carlos Drumond de Andrade, isto é, a vitória sobre o fascismo? Um discreto "Parque da Vitória" e um obelisco em um ponto estratégico da cidade. Mas para ser justo, devemos lembrar que parece que essa tendência era corrente mesmo na época da União Soviética, isto é, de manter a cidade como um "cartão de visita para turistas ocidentais", afinal, "é feio falar de guerra", mesmo que ela represente uma realização, um "podvig" de todo um povo em sua luta para não se transformar numa colônia ou numa "república das bananas" como tantas na América Latina ou na África.


Mas ainda falando em "cidade-porto", o que há de tão ruim nisso? Vi em São Petersburgo algumas misérias que não percebi na cidade de Moscou (embora saiba que em Moscou e outras cidades interioranas elas também existam), por exemplo, oferecimentos de "show de strip" e rapazes que abertamente e sem qualquer máscara em língua inglesa, próximo da Avenida Nevsky, "as garotas ideais para homens como eu" (modéstia a parte, procuro andar sempre com boa apresentação individual), anúncios de strip tease, inclusive shows desse tipo para o ano novo... Em algumas ocasiões me choquei com situações um tanto estranhas, conheci garotas que "se decepcionaram comigo" ao perceber que tenho um ponto de vista pró-russo, que considero importante o seu papel na história mundial, seja na época de Alexander Nevsky, na época de alguns tzares e principalmente na era soviética e mesmo na Rússia atual. Quanto a isso, sei que no Brasil há algumas pessoas que se irritam se um estrangeiro vê coisas boas no Brasil, e nesse momento em São Petersburgo, me senti talvez como alguns estrangeiros que gostam do Brasil se sentem ao visitar o país sulamericano. Assim, se algum russo de São Petersburgo lê este blog, há que fazer um questionamento, será que ele ou ela já tentou se imaginar no lugar do turista? Se alguém acha que impressiona a um ocidental dizendo que "tem vergonha de ser russo e bom é o ocidente", a única coisa que esse ocidental irá imaginar do russo é que ele sofre de "complexo de vira-latas", e esse complexo de vira-latas é um problema muito sério que conhecemos no Brasil, isto é, pessoas que acreditam que tudo no país é ruim e o bom está apenas na América ou na Europa. Ele se torna provinciano ao pensar assim, no pior sentido que tem essa palavra.

A beleza da Rússia está exatamente nela ser Rússia, tenha ela os seus defeitos ou qualidades, a beleza do russo está exatamente na sua idiossincrasia, na sua camaradagem, no seu espírito de luta e orgulho do seu país e de suas tradições, e não em querer se parecer com aquilo que ele não é. O ocidente tem muitos defeitos, e hoje muitos ocidentais olham para a Rússia como uma alternativa a esses defeitos, o ocidental quer aprender com a Rússia, o brasileiro quer aprender com a Rússia! Como certa vez escreveu um poeta, "o mundo inteiro a chama, lá onde se quer viver livre"*!

*Вес мир собою позовёт туда где любят вольно дышать!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Minha avaliação de Serguiev Passad, patrimônio da UNESCO

Vale a pena visitar a pequena cidade de Serguiev Passad? Antes de responder a essa pergunta, devemos perguntar, o que é "Serguiev Passad"? Para muitos que lá convivem, é apenas uma "cidade dormitório" para quem trabalha em Moscou, mas para outros, e em especial para quem realmente deseja conhecer a Rússia ela é muito mais que isso.

Serguiev Passad é uma das cidades mais antigas da Rússia, sua fundação data de 1347, isto, é, do século XIV, ela cresceu no interior de um baluarte, povoada por clérigos ortodoxos e cidadãos comuns, após a recomendação do venerável monge russo Serguey Radonejskiy (em Porto Alegre, Brasil, há uma igreja em honra a este santo). Apesar de ter apenas 100 mil pessoas, a cidade possui uma rica história, especialmente para aqueles interessados em história, cultura e religião. Lá estão as relíquias de Serguey Radonejskiy. Mesmo sob intensa ventania gélida e o frio extremo de -23 graus, os russos fazem longas filas para visitar a pequena igreja onde estão as suas relíquias. Curioso perceber como a cidade é composta em sua esmagadora maioria por russos étnicos, o "russkiy" (já falamos que na Rússia há duas palavras para "russo").

A lavra de Serguiev Possad pode ser completamente vista em 1 hora, embora o descobridor da Rússia recomende duas. Se você gosta de quadros, no interior da lavra há uma lojinha onde podem ser compradas réplicas de importantíssimas obras de arte russas que estão no interior da Galeria Tretyakovskaya. Também lá estão miniaturas de monumentos dedicados a patriarcas e monges russos, com valor apenas artístico (já citamos que os ortodoxos não sacralizam imagens esculpidas, apenas pintadas), ícones e livros sobre religião, tudo vinculado ao contexto do mosteiro, que é patrimônio cultural da humanidade preservado pela UNESCO.
Serguiev Possad fica a apenas 70km de Moscou e pode ser facilmente alcançada através de uma "elektrichka", isto é, um trem elétrico. Nesses trens, em dias de semana, há uma grande oferta dos mais diversos tipos de utilitários, o que eu não vi de "manassés" no metrô e nos ônibus de Moscou eu vi numa viagem só até Serguiev Possad. Tudo eles vendem, aparelhos de autodefesa que dão choque, "quanto mais intenso, mais caro", segundo o seu vendedor, palmilhas térmicas (extremamente úteis no inverno, especialmente para quem não quer comprar botas caras), véus para mulheres, canetas, comida, jornais, gorros e por incrível que pareça, até facas Tramontina "Made in Brasil" aparecem lá.

Ir a Serguiev Passad ou não fica ao critério do leitor, some essa beleza natural da cidade ao clima hospitaleiro e acolhedor dos locais. Aqui apresentamos os melhores argumentos, melhores que qualquer texto.