terça-feira, 19 de junho de 2018

Brasileiros fazem sucesso em Rostov


Pela primeira vez (e talvez única num longo período de tempo) a cidade de Rostov no Don recebeu um grande número de brasileiros, que receberam o carinho dos habitantes da cidade. Os hóspedes da "Capital sulista" da Rússia, do "Portão do Cáucaso", surpreenderam-se com os visitantes do distante Brasil, virando tema de discussões num dos principais grupos da cidade, "Rostov Glavniy", um deles virou até meme e aparentemente ganhou um enorme número de inscritos em seu Instagram!

O brasileiro Tommer Savoia foi outro que popularizou-se rapidamente e ele não foi o único:
    



Nos comentários os russos impressionam-se com a energia do rapaz, porém lamentam que aprendem apenas palavrões. Provavelmente os russos não perceberam o que é mais do que óbvio, brasileiros, de uma forma geral, chamam muito palavrão. Tommer até virou meme:



Assim, os brasileiros se despediram da cidade na qual foi escrito o romance "O Don silencioso" (Tihiy Don) e seguiram para São Petersburgo.

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Racismo ou esclerose? A polêmica declaração de uma deputada russa

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Uma deputada do parlamento russo, a Duma, recomendava às mulheres (ela não proibiu) que não dormissem com homens estrangeiros durante a Copa do Mundo de 2018. O comentário foi manchete de muitos jornais do mundo todo, que se apressaram em acusá-la de racista. O Kremlin se apressou na condenação da declaração que nem mesmo um bufão chovinista como Jirinovskiy ousou fazer ao longo de sua carreira. Mas quem é a deputada Tamara Pletnyeva, cujas declarações foram condenadas pela maioria esmagadora dos russos?

Tamara Pletnyova, cujo apelido é "pastora alemã", é filha de um casal de alemães do Volga, um dos povos da Rússia que teve sua república nacional dissolvida durante a IIGM, muitos deles foram deportados para evitar que acontecesse na Rússia o que aconteceu no oeste da Ucrânia em 1941, quando uma região recém recuperada pela URSS, Lvov, foi cooptada pelos nazistas e serviu como ponto de apoio para estes. O nome do pai de Tamara é Wilhelm (Guilherme), mas por alguma razão o patronímico da deputada é Vassilyevna (Filha de Vassiliy). Dos anos 60 até a década de 90 foi professora e a partir de 1993 deputada. A deputada russa ocupa no presente momento uma importante secretaria de defesa da mulher, da criança e da família, mas o que levou às suas declarações polêmicas? 

Tamara Pletnyova baseou-se na experiência com o Festival da Juventude em Moscou em 1957 e nos Jogos Olímpicos de 1980, esses eventos tiveram uma coisa em comum, do intercurso sexual entre russas e estrangeiros nasceu um grande número de crianças órfãs de pai, em muitos casos mesmo de pai e mãe, indo parar em orfanatos. Num país no qual praticamente não há negros, já que a Rússia não participou do processo de colonização da África, muitas crianças nasciam, porém nada sabiam sobre suas origens, sobre o porquê de ser diferente das demais crianças. Essas crianças até tinham apelidos, "Filhos das Olimpíadas", ou "Filhos dos Festivais".

Na Rússia, a julgar pela experiência do autor deste artigo, 99% das crianças mestiças são filhas de mães solteiras. Certa vez, no metrô de São Petersburgo, estava de pé uma garota afrorrussa de formas exuberantes, os homens ao seu redor a observavam provavelmente cheio de desejo de pelo menos poder sair de lá segurando a mão da garota. Cheguei a conhecê-la na escada rolante, pelo seu perfil na rede social vi que tinha apenas mãe. Assim é a rotina de muitos negros da Rússia, crescer sem a figura paterna, sem uma família completa, para uma criança russa branca crescer sem ter qualquer informações sobre o pai é um drama que só acontece em grandes proporções durante períodos de guerra. Porém, há histórias bem mais difíceis de crianças que mesmo chegam a ser levadas para o país do pai, junto com suas mães, mas por alguma incompatibilidade o casal acaba se separando e a família do pai fica com a guarda da criança. A mãe entra numa batalha judicial para reaver o filho e essa batalha costuma ser longa e difícil, nem sempre com sucesso. Esses fatos foram elencado no discurso de Tamara Pletnyova.

Outro fato no qual se baseou a deputada russa é a crise demográfica russa. Todo ano um grande número de russos vai embora da Rússia, esse percentual é maior dentre as mulheres, nem sempre um homem que deseja casar-se com uma mulher russa decide ficar na Rússia. 

Hoje na Rússia há um grande número de mães solteiras, inclusive mães que tiveram filhos de homens russos, porém o percentual é quase absoluto dentre mães de filhos mestiços. É importante lembrar que a declaração de Tamara se refere a mulheres não dormirem com homens estrangeiros, mas nada fala sobre homens russos com mulheres estrangeiras. Outro ponto marcante é que ela se refere especificamente ao período da Copa do Mundo, pois muitos homens parecem estar mais interessado em sexo do que em qualquer outra coisa. Verdade ou não essa suposição, o fato é que a Copa já trouxe alguns momentos lamentáveis, escândalos sexuais com dois vídeos famosos nos quais homens brasileiros assediam e humilham garotas russas com frases de teor sexual, os vídeos foram massivamente condenados pelos brasileiros. A despeito deste episódio lamentável, é importante lembrar que muitos homens brasileiros casam-se com russas e vivem na Rússia, formam famílias e educam seus filhos.

Não se pode impedir um leão de não querer comer carne, ele não irá se tornar vegetariano. A ideologia russa dos valores tradicionais de família se mostram incapazes de impedir surtos de DSTs na Rússia assim como um grande número de mães solteiras que só parece crescer, isso por que ao mesmo tempo que o Estado russo (assim como o Estado soviético) prega a castidade, a mídia tenta a todo custo impôr uma "revolução sexual". A questão é, será que a deputada russa, que é mãe, já ouviu falar de uma coisa chamada "preservativo"? Um país como o Brasil é cheio de defeitos, um deles é a sua excessiva sexualização, o brasileiro médio só conhece em média dois assuntos, futebol e sexo (bunda), mas o país conseguiu impedir surtos de DSTs. Será que a deputada ouviu falar de uma coisa chamada "pensão alimentícia"? Não é preciso fazer discursos caricatos e retrógrados para ajudar as mulheres a ter uma estrutura familiar, é preciso responsabilizar pais irresponsáveis, russos ou não, exigir deles a pensão alimentar e prendê-los em caso de não-pagamento desta.

De fato, o chamado da deputada russa de mais de 70 anos que pretendia "ajudar as pobres mães solteiras" não pode ser tido como racista, ele deve ser antes de mais nada considerado como ignorante, retrógrado, sobretudo esclerosado! Infelizmente, esse tipo de mentalidade só contribui para que mais e mais russos queiram ir embora do país.