domingo, 10 de setembro de 2017

Filmes do cinema russo de 2017

O cinema russo experimenta um momento difícil no momento, muitos deles são cópias descaradas de filmes de Hollywood e muitos críticos apontam isso como uma perda de qualidade, porém uma coisa melhorou, a qualidade das imagens e filmagens. Alguns se sobressaem, representando ótimos trabalhos, outros nem tanto, mas não chegam a ser ruins.

Alguns críticos sustentam que ao tentar imitar Hollywood, o cinema russo acabou perdendo a sua identidade. É verdade que alguns clássicos do cinema nasceram de plágios e o exemplo mais clássico disso é a "Trilogia do dólar", sem a qual o renomado ator Clint Eastwood talvez seria apenas um mero limpador de piscinas. O primeiro filme foi um plágio de um filme de Akira Kurosawa, só que ambientado no Velho Oeste americano (o filme foi feito por italianos), porém os demais foram originais em muitos aspectos. Porém no cinema russo, apenas muda-se o cenário e os clichês são os mesmos de filmes hollywoodianos. Deixando a entender que depois do mestre Aleksey Balabanov, um mestre do bom cinema com baixo orçamento, os modernos diretores, cheios de lasers e feitos especiais, são vazios em criatividade.

Devido à falta de originalidade muitos russos não têm ânimo para assistir a filmes russos no cinema. Um fator que influencia nos resultados é o fato de que o Fondkino (Fundo de cinema russo) não exige retorno, e assim, para alguns um filme é apenas uma grande máquina de lavagem de dinheiro. O Russificando traz alguns exemplos de filmes esperados e já apresentados em 2017:

- Prityajenye (A aproximação)

Do mestre do control+c, control+v da Rússia, Fyodor Bondarchuk, ironicamente filho de um grande diretor, o filme é uma cópia aberta e sem máscara da trilogia do Crepúsculo. Por mais estúpido e infantil que seja o Crepúsculo, talvez alguns sustentem que era um trabalho original. O filme por si só não tem nenhuma lógica, um vampiro, criatura mitológica diabólica que suga o sangue dos homens como um personagem belo, gentil e bondoso, quase um Cristo, vítima do bullying dos colegas da escola.
Em Prityajenye temos um ET em vez do vampiro, mas as características são as mesmas, até os seus poderes, torna-se extremamente rápido. O que parece mais absurdo, logo no início do filme, um militar russo dá a ordem para derrubar um enorme "olho voador" do tamanho do Maracanã sobre os céus da capital russa!!! Não se trata de um "pequeno" jato pilotado por um terrorista maluco, mas sim de enorme olho voador do tamanho ou maior que o Maracanã! Depois o próprio comandante que emitiu a ordem culpa o ET, que cai sobre o bairro de Tchertanovo em Moscou (e essa foi a razão pela qual resolvi assistir a esse filme, pois foi o primeiro bairro em que fiquei na minha segunda vinda a Moscou, além da atuação de Oleg Menshikov).

Por se tratar de um objeto extraterrestre, com uma tecnologia fora do comum, o perímetro foi completamente isolado pelo Exército Russo, apresentado ao mundo em seu novo uniforme de camuflagem digital, usando os melhores equipamento (o filme, a propósito, foi feito com o apoio do Ministério da Defesa), porém, a questão é que a área de isolamento é ridiculamente pequena! Não apenas é pequeno o cordão de isolamento, como ele é facilmente penetrado pela "galera" dos principais personagens, que até conseguem pegar o exoesqueleto utilizado pelo ET e sair do perímetro sem serem notados pelo Exército Russo! O leitor já deve ter percebido que o filme não foi feito para gente adulta, tendo a mesma seriedade de um episódio do Pica-Pau.

Em suma, só assista a esse filme se você for um adolescente ingênuo! Se você não for um adolescente ingênuo, não vale a pena assistir, nem esse e nenhum de Fyodor Bondarchuk. Quando comentei sobre esse filme em meu perfil do VK, rede social russa, um amigo comentou "a questão é quando Bondarchuk fará uma versão russa do Titanic".




- Vremya Pervyh (A hora dos pioneiros)

O filme trata de um dos mais importantes feitos da humanidade, a caminhada do primeiro homem em pleno espaço sideral, Alexey Leonov, um piloto bastante ousado e tido pelos seus colegas como "meio louco". Seu feito envolvia grandes riscos, em especial o de ficar perdido para sempre no espaço sideral.

O ator principal do filme consegue tornar interessantes e mesmo engraçadas muitas cenas que com outros atores talvez pareceriam monótonas e chatas, Yevgeniy Mironov (o mesmo do seriado Dostoyevskiy).

Um belo filme sobre um grande feito do socialismo soviético e de como homens enfrentaram um grande desafio da ciência. Muitos críticos consideraram o filme melhor do que o seu análogo americano sobre exploradores do espaço.



- Gogol: Nachalo (Gógol: o início)

Conforme anunciado, esse filme é na realidade uma série na tela grande, um seriado disfarçado de filme, ao menos essa é a crítica mais contundente feita até agora pelos críticos russos.

O filme em si não é ruim, ao menos é bastante honesto, já fica claro em seus primórdios que se trata de um filme de terror, uma fantasia baseada na realidade. O elenco do filme reúne dois protagonistas de Prityajenye, dentre os quais Oleg Menshikov, cujo papel lembra um pouco Sherlock Holmes estrelado por Robert Downey Jr. Gógol, por sua vez, é retratado como um homem inseguro e místico, fato que marca a biografia do grande escritor autor de Taras Bulba, O nariz, O capote, Viy e do clássico O inspetor-geral.

No filme, eles partem de São Petersburgo para Poltava, uma pequena vila na Pequena Rússia (hoje chamada Ucrânia) para investigar uma série de assassinatos misteriosos causados por um cavaleiro sem cabeça. O filme tem boas doses de humor, e algumas cenas são uma clara alusão a filmes como O senhor dos anéis, por exemplo, quando o Cavaleiro sem cabeça busca Gógol e uma moça da vila, que se escondem atrás de uma árvore. A vila é muito bem reproduzida em vários detalhes, bem como os trajes de época. O filme é cheio de mistérios, porém alguns desses mistérios deixam a história bastante confusa. Enfim, como filme para entreter, vale a pena ver.



- Krym (Crimeia)


Anúncios do filme Krym estão espalhados por todas as grandes cidades, e muito provavelmente estará em breve no metrô. O filme do diretor Alexey Pimanov é baseado em fatos reais ocorridos no ano de 2013.

O romance de um casal de jovens russos é interrompido ao deflagrar de uma grande catástrofe política e humanitária na Ucrânia, o golpe de Estado conhecido como Euromaydan, pano de fundo da história que irá fazer você sentir o terror de grupos neonazistas e de seu poder de mobilização em pleno século XXI. Numa das cenas do trailer, o ator principal tem o seu ônibus parado por gangues neonazistas numa cena que em muito lembra um ato terrorista de uma das várias organizações neonazistas da Maydan, quando russos são obrigados a descer do ônibus, são espancados, humilhados, colocados de joelho e obrigados a comer vidro.

O trailer também traz cenas da invasão da Crimeia, ato legal praticado pela Federação Russa que, tendo o direito de utilização das bases navais da Crimeia, evocou a cláusula que admitia sua intervenção no caso de ameaça à população russa da região. Hoje a Crimeia, onde o filme foi gravado, é parte da Rússia. O filme já despertou reações histéricas no parlamento ucraniano, a Rada, tendo sido proposta a sua proibição nos cinemas. Estreia no final de setembro.

- Kolovrat

Um guerreiro russo aprendeu kung fu e resolveu lutar contra a Horda, essa é a ideia que o trailer de "Kolovrat" nos passa. O filme se baseia na lenda russa do guerreiro Yevpatiy Kolovrat, que teria lutado contra os cãs da Horda Dourada, nome do grande império dos mongóis, iniciado por Genghis Khan. O filme mistura lenda e realidade, ao menos seu trailer nos mostra que tem muito boa filmagem e parece retratar muito bem uma grande cidade russa medieval, Ryazan (que existe até hoje), com seus edifícios e fortificações feitos de madeira, aparentemente o filme foi filmado em um longo período de tempo, pois podemos ver uma paisagem de inverno com neve e florestas cheias de folhas douradas e vermelhas do outono. As cenas de luta parecem ser cheias de acrobacias de filmes de kung fu, impossíveis de serem feitas usando-se uma armadura de malha ou escamada. Espera-se que esse filme não seja o mesmo fiasco de "O viking", filme mais caro da história russa, de 2016.




- Matilda 

O filme de Alexey Utchitel já causou um enorme escândalo na Rússia devido à forte oposição dos setores mais conservadores da Igeja Ortodoxa Russa e dos monarquistas. A ex-procuradora-geral da Crimeia, Nataliya Poklonskaya, agora deputada, chegou a propor a proibição do filme. Nataliya tem em seu escritório um busto do último tzar da Rússia Nikolay II, que diz ter visões de Nikolay II, estátuas de Nikolay II chorando e realizando milagres (o que até uma comissão da Igreja Ortodoxa Russa, que não acredita em milagres de estátuas, negou), que desfila no Regimento Imortal com retratos de Nikolay II... (enfim, você já entendeu).

A película é bastante polêmica, a começar pelo fato de que Nikolay II é representado pelo ator alemão Lars Aidinger, não por ele ser alemão, pois os tzares que sucederam Pedro, o Grande, em sua maioria tinham sangue alemão e jamais se casavam com mulheres russas, mas sim por se tratar de um ator que já fez filmes de pornografia! É importante lembrar que o tzar Nikolay II é considerado santo na Igreja Ortodoxa Russa, uma iniciativa tomada pela Igreja Ortodoxa Russa Fora da Rússia (ROCOR), que se reuniu com a igreja russa no ano 2000, trazendo Nikolay II para o grupo dos santos.

O filme trata do romance da bailarina Matilda com o jovem tzar Nikolay II (Lars Aidinger), filho do já moribundo e idoso Alexander III, tzar conhecido pelas suas políticas de russificação e forte expansionismo. Nikolay, entretanto, enfrenta um forte antagonista, representado pelo personagem de Danila Kozlovskiy (Vladimir, em "O viking").

A despeito das polêmicas, o filme parece ter um enredo bastante original, uma fotografia de altíssima qualidade, a participação de atores internacionais e, o melhor, uma sátira a um tzar fraco e impotente que a oligarquia que governa a Rússia teima em cultuar!



- A Horda Dourada

Orcs? Trolls? Goblins? Nada disso, a Horda da vida real (e não de Warcraft) era formada por tártaros e mongóis, um império poderoso nascido no extremo-oriente, que domou o norte da China, subjulgou povos inteiros e cobrou pesados tributos de um povo notável no Ocidente, os russos. Esse império era chamado de Horda Dourada.

Por muitos anos, a Rússia existiu na condição de vassalo da Horda, pagando-lhe tributos pesadíssimos. No enredo do filme de excelente indumentária, os mongóis exigem uma princesa russa ou 30 mil homens. Em meio a tantas disputas e debates entre o príncipe e os populares, um artista russo inicia um romance com uma cazaque, uma das várias mulheres do khan da Horda, um roteiro bastante original jamais visto ainda em um filme russo e mesmo soviético! Um ponto marcante do filme é que ele reúne grandes atores de todas as repúblicas da ex-União Soviética. Os principais acontecimentos se dão em Novgorod, governada então pelo grão-príncipe Yaroslav (nome que significa Glória Radiante).





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