terça-feira, 30 de dezembro de 2014

"Vocês são russos, camaradas?"


Muito se diz que a Rússia é um país "xenófobo, hostil". Relato aqui a minha experiência de entrada na Rússia.

Fiz o meu voo através da Alitalia, fui a Moscou via Roma. Chegando na capital do antigo Império Romano, me deparei com funcionários mal humarados, percebi muita má vontade na hora de dar informações, que sempre eram encerradas com um sorriso seco e falso como o do apresentador fascista de origem italiana Danilo Gentilli (ser descendente de italianos não faz ninguém racista, mas infelizmente quase sempre um racista de renome tem algum sobrenome italiano, sendo Mayara PETRUSO um bom exemplo disso).

Chegando na imigração me deparei com uma situação um tanto estranha. Eu já havia ouvido falar de tratamentos humilhantes concedidos a brasileiros na Espanha, mas que isso também ocorria na Itália foi novidade para mim, ainda mais considerando que o nosso povo brasileiro estendeu a mão aos italianos para livrá-los de Mussolini e recebe todos os anos turistas italianos que recebem tratamento de rei pelos brasileiros. Ocorreu que os brasileiros foram separados em uma fila, onde se dava uma revista manual, e após essa revista um verdadeiro interrogatório por policiais italianos. Eu não estava indo para a Itália, estava indo para a Rússia. Daí vieram as tradicionais perguntas, em que cidade vai ficar, em que endereço, que amigos, número da casa, razões de ir para a Rússia, se fala russo, etc. Até aí tudo bem, não fosse o fato de que as razões foram perguntadas talvez umas 500 vezes, depois vieram comentários que demonstraram o despreparo e a falta de profissionalismo dos policiais italianos. Uma vez que estava pela primeira vez entrando em um país estrangeiro, fui da maneira mais formal possível, camisa manga longa, gravata, colete, calça social, capa em vez do terno... Um policial comentou em italiano que "eu parecia um ditador totalitário", eu respondi (evidentemente em russo) que "lutchshe byt diktatorom, chem byt golubym" (parafraseando o presidente bielorruso Lukashenko), o policial então percebeu que eu entendia italiano. Depois foi feita uma busca em minha bolsa, nem meu caderno russo escapou, um dos policiais deve ter se dado conta do papel patético que estava fazendo, ao se deparar com uma escrita russa manuscrita, e simplesmente me dispensou. Isso durou quase uma hora, e nem sequer foi feito em uma sala com cadeiras, mas fiquei em pé respondendo a isso. Na Rússia se diz que "o inimigo não tem direitos", quando se quer convidar alguém para sentar (isto é, sente-se que você não é inimigo).

No aeroporto de Fuomicino tive alguns dissabores, por exemplo, foi feita uma mudança nos portões de embarque e sequer fui avisado, após perguntar em italiano e inglês a uns 500 funcionários, nenhum soube informar direito, isso até encontrar um casal russo (identifiquei que eram russos pela fisionomia) e pedir a informação, que me deram corretamente. Chegando num ônibus que me levaria até o avião Moscou, onde os passageiros subiam, olhei para os populares que lá se encontravam e perguntei: "vocês são russos, camaradas?". Ao que responderam positivamente, senti uma grande sensação de alívio, e graças a Deus já estava indo embora da Itália. O aeroporto de Fuomicino é muito criticado por visitantes não só do Brasil como de outros países, nos comentários do Google um americano descendente de italianos diz que esse aeroporto "não é digno de estar na Europa e deveria estar num país de terceiro mundo".

Tive como colega de voo uma mãe russa com um neném de cerca de 7 anos (para mim até 10 anos uma criança é neném), a primeira criança russa que vi pessoalmente. Aterrissando no aeroporto de Sheryemyetyevo, passei pelo "Пасспорт контроль"(Controle de passaporte), fui recebido por uma pogranichnik, com o posto de tenente-coronel (o que reconheci em seu uniforme). Cumprimentei-a e ela analisou meu passaporte, perguntou o motivo da visita, e falei entusiasticamente que se tratava de um sonho, ela ficou impressionada com o meu russo e perguntou-me onde aprendi, contei-lhe sobre o lugar e ela então me cumprimentou através do vidro, entregando o meu passaporte carimbado e me disse dabró pajalovat v Rossii (bem vindo à Rússia), como uma tia que recebia a um sobrinho. Segui adiante e recolhi minha bagagem, graças a Deus inteira. Os funcionários do aeroporto foram bastante prestativos e percebi alguns recém chegados pedindo para tirar fotos com as funcionárias do aeroporto, pois elas usam uniforme e possuem uma aparência bastane notável.

Um comentário:

  1. Nossa! Me senti exatamente assim!! Muito real isso, na Russia se trata bem os brasileiros.

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