segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

O fim do Cerco de Leningrado (Conto de reencenação)

"Os canhões de 85 milímetros disparava até ficarmos surdos, a artilharia castigava sem dó nem piedade os invasores nazistas, os morteiros da infantaria também não davam trégua, isso tudo acompanhado pelos trabalhos dos exímios franco atiradores, que em sua camuflagem branca mais pareciam fantasmas que brotavam do chão, seu duelo com os snipers alemães mais parecia uma luta entre forças do sobrenatural.

Em meio cansaso e à noite de pouco sono e ansiosidade, os nazistas estavam meio à neve, era difícil vê-los em meio às barricadas. Homens avançavam sobre eles com seus imponentes fuzis Mosin-Nagant, mas a barreira alemã dão dava a ninguém a chance de passar, mais e mais homens caíam, seria realmente o fim do Grande Cerco? A cena que eu assistia, em meio à neve e ao frio gélido por pouco não lembrava uma cena da Batalha sobre o gelo, do filme de Einsenstein, mostrado a nós no cinema da nossa unidade militar, nele os russos combatiam o invasor alemão. O Exército Vermelho já havia conseguido romper as linhas do inimigo, mas isso já havia acontecido em muitos pontos da Frente Ocidental e mesmo assim Leningrado continua cercada.

Com a minha companhia avançávamos, a minha esperança estava na minha PPSh do ano de 44, ano do Fim do Bloqueio. Mesmo descarregando os tambores de munição junto aos meus camaradas, os nazistas não paravam de atirar, e para piorar, um de seus blindados avança em nossa direção, até que para a nossa norte, tínhamos ainda um blindado ao nosso lado, que não apenas destruiu o blindado alemão, como flanqueva as linhas alemãs, entrincheirados e protegidos pela areia e pela neve. Muitos caíam em nossa companhia, tinha sorte de estar vivo ainda, talvez por rastejar tanto quanto correr. A minha munição cessava, e eu já estava muito à frente do meu batalhão, não queria morrer, mas se assim o fosse, que isso acontecesse levando junto quantos invasores pudesse. Para a minha sorte, à minha frente estava um grande soldado alemão tombado, que escondia todo o meu corpo devido aos acidentes de terreno. Cada 10 segundos de vida era praticamente uma nova vida, os tiros eram muito intensos entre os dois lados, perto de mim também caía muitos tiros, fazia de tudo para proteger a minha cabeça. Eu dava um suspiro ao disparo dos nossos soldados metralhadores, pois era quando os alemães atiravam menos. Mesmo com 3 carturos de munição, minha PPSh dava disparos no modo automático, na tentativa de acertar ao menos um.

Muitos camaradas caíam completamente roto por balas, os padioleiros de campanha tentavam salvá-los, muitas vezes sem sucesso, a chama da vida se apagava a cada instante debaixo da ira do deus da morte teutônico chamado MG 42, era quase impossível sobreviver aos seus disparos, mas mesmo assim, tropa avançava até que na hora certa percebi que estava sem munição, mas não sem as armas, colada à minha perna encontrava-se a "espada" de todo soldado, a pá de sapa, nas palavras de um escritor judeu citado por nosso zampolit*, proibido no III Reich, ela podia partir um homem ao meio. Ela era a espada de cada soldado do Exército Vermelho. Mas ainda assim queria pegar a munição de um companheiro, porém todos com a PPSh estavam muito atrás, eu não podia titubear. Mas a invenção de Shpaguin podia não servir mais para atirar, mas servia para bater. Jamais corri tão rápido quanto em meu lance até o blindado alemão retirado de combate, um invasor caído ainda resistia e preparava-se para pegar sua pistola para atirar num camarada, mas não pude me poupor e comecei a bater nele com a coronha da minha PPSh.

A cada segundo ao meu lado havia mais e mais soldados vermelhos, eu imaginava, estaria eu morto no céu sobre o qual nos falavam na igreja da minha vila ao sul ou no inferno à espera do eterno suplício? Porém, os alemães começavam a se entregar, sem muitos combates corporais, eles já estavam cercados, até que ao meu lado era fincada no solo a bandeira vermelha, a cantoria e o sanfoneiro marcavam o que era um céu ali, a Vitória e o renascimento da capital do Norte, o Bloqueio de Leningrado havia terminado e já estava em curso uma grande marcha em direção ao ninho do mostro fascista no Ocidente, em Berlim".



*Zampolit: Nome dado ao oficial responsável pela instrução história e política do Exército Vermelho

- Cristiano Alves, "Relatos de um soldado da reencenação"

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