segunda-feira, 27 de abril de 2015

Goncharov, o autor de Oblomov

Existe uma anedota que fala de um operário que certa vez foi fazer uma queixa ao patrão, numa padaria, e então ouviu desse "que "óvi" cara?!", "que "évi" cara?!", e depois o demite por causa de sua rebeldia. É evidente que se trata de uma piada de muito mal gosto e de teor absolutamente reacionário, mas ainda assim há um tom de comédia pela forma como o autor percebe os sobrenomes russos. 

Existe uma lógica para sobrenomes russos terminarem em "óvi" ou "évi", em realidade, o mais perto do verdadeiro som é "off" ou "yeff". Trata-se de uma forma de plural russa declinada. Assim como em português temos "Ferreira", em russo temos "Kuznetsov". Assim como em português "de Paula", temos em russo "Pavlov" (tônica na primeira sílaba). Tchaykovskiy, o nome do famoso compositor, vem de "Tchayka", isto é gaivota, que por sua vez é um sobrenome de origem cossaca. Mas quem foi esse Goncharov e seu romance "Oblomov"?

Goncharov foi um dos grandes escritores da Rússia do século XIX, um século de florescimento da literatura russa, de titãs como Tolstoy, Dostoyevskiy, Gogol e outros cujos trabalhos são desconhecidos ainda em língua portuguesa, muitos tornando-se conhecidos devido ao leão da tradução russo-português Boris Schneider. Goncharov, mesmo sendo escritor, ocupou um posto polêmico no Estado russo em São Petersburgo, na época a capital do Império, o de censor. Segundo alguns autores, graças a essa posição de Goncharov, escritor, foram publicadas obras polêmicas de autores como Dostoyevskiy, Turgenyev, Nyekrassov, Pisemsky, dentre outros autores. Ou seja, ele teria sido para a literatura e o Império o que Schindler foi para os judeus e a Alemanha nazista. Ele era um homem viajado, tendo ido até a safaris na África. Mesmo sendo nobre, ele foi um crítico ácido da nobreza russa, e sua obra prima, que vi pessoalmente em sua mansão, é um exemplo disso. 

Oblomov é uma crítica à nobreza russa do século XIX, seu personagem principal, de mesmo sobrenome, passa metade do romance em cima de sua cama, ele é apresentado como um personagem inerte, apático, autodestrutivo e preguiçoso.

Um fato que chama a atenção na biografia de Goncharov é que ele fazia parte da maçonaria, organização mundialmente conhecida. Ele é motivo de orgulho para a cidade de Ulyanovsk, cujo lema é "A capital culta", como José de Alencar é para Fortaleza, por exemplo, só que com muito mais destaque. Sua casa, assim como a de Lenin, a algumas quadras de lá, é um dos principais e mais belos museus de Ulyanovsk. Tive a oportunidade de visitá-la junto a um amigo que interessa-se por castanha-do-Pará e pretende importá-la do Brasil para vendê-la na Rússia. O mais interessante dele é que embora tire fotos extremamente sério é bastante sorridente pessoalmente.

- Galeria (clique para ampliar)


 Alguns manuscritos originais de Goncharov, dentre os quais o original de Oblomov
 Vista da sala de estar da mansão de Goncharov
A coleção de caixinhas (shkatul'ki) pintadas com a centenária técnica de pintura russa conhecida como "Palyeh", em razão da aldeia onde eram pintadas. No museu é possível conhecer como é praticada essa técnica, que leva mais de 3 meses para ficar pronta e é feita apenas na Rússia, trazendo temas do folclore russo. Digamos que ela está para a Rússia como a pintura em xilografia está para o Brasil.
 Com meu amigo Anton na casa de Goncharov, autor de Oblomov

Uma das salas da mansão e a espingarda de caça de Goncharov. Diria que pelo calibre abate até um urso polar! Um ponto que chama atenção na casa é a galeria de quadros de familiares e pessoas próximas do escritor. E algumas pessoas ficam espantadas quando percebem que em meu quarto possuo o meu auto-retrato, do "fotógrafo" Sony Timer, tirada no Sul.


Vista externa da casa de Goncharov. Repare na largura das ruas dessa pequena cidade.


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